O autor Rodrigo S. M. apresenta o difícil
trabalho da escrita ao relatar a história de Macabéa. Ele não deixa claro como
sabe sobre a alagoana que a todo tempo pede desculpas por simplesmente existir.
Macabéa representa a figura do herói desorientado, que ganha destaque enquanto
não consegue colocar a si próprio em um lugar.
Em A hora da estrela,
Clarice Lispector põe esses dois personagens em destaque. Enquanto Rodrigo
apresenta os questionamentos (ah, quantos questionamentos) sobre o autor
exercer sua função de narrar, Macabéa traz a tona temas
sociais e do que, afinal, é a vida. Embora no meio de tantas perguntas, não
espere encontrar respostas nas linhas do romance. Talvez seja você, leitor, quem pode
solucionar tantas dúvidas.
“Trata-se de livro inacabado porque lhe falta resposta. Resposta esta que alguém no mundo ma dê. Vós?”
Macabéa é uma alagoana de origem pobre que foi criada e
educada – ou seria amedrontada? – pela tia. Pouco antes de ficar só no mundo,
Macabéa mudou-se para o Rio de Janeiro, cidade tão movimentada que a presença
da figura frágil e feia – como é descrita –, não é notada. Habituada a ter o
mínimo necessário para se manter viva, Macabéa parece somente ter a piedade do
autor que conta sua história, embora ele próprio não consiga entendê-la. É
instigante procurar em cada linha, o motivo pelo qual ela age de maneira
automática. Afinal, disseram que ela deveria ser feliz, então era.
“Se tivesse a tolice de se perguntar “quem sou eu?” Cairia estatelada em cheio no chão. É que “quem sou eu?” Provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto.”
Macabéa leva uma vida que poderia ser chamada de simples
se fosse fácil viver assim. Com dinheiro contado, as refeições do almoço são cachorro-quente,
os filmes no cinema só podem ser vistos no dia mais barato, quanto mais açúcar
no café, melhor e não tem como pagar o remédio para a tuberculose que acaba de
ser diagnosticada. As verdades e reflexões são ditas pelo locutor da Rádio
Relógio, que nem sempre são entendidas já que as palavras são estranhas.
Contentar-se com pouco tem um limite, mas não para
Macabéa. Se possível, ela pede perdão por conseguir sobreviver assim. Ela
aprendeu a se sentir como um incômodo desde quando vivia com a tia. Embora ainda
consiga ser sonhadora, qualquer plano sempre é esfarelado antes que se torne
maduro.
O namorado Olímpio não age como tal. Sempre em tom de
grosseria, ele mantém uma relação distante com Macabéa mesmo estando do lado
dela. Sem intenções de incluir a moça em seus planos, ele acaba deixando-a para
ficar com Glória, a secretária que recebe elogios e atenção do chefe – a paixão
secreta de Macabéa.
“Ela estava enfim livre de si e de nós. Não vos assusteis, morrer é um instante, passa logo, eu sei porque acabo de morrer com a moça. Desculpai-me esta morte.”
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia e foi naturalizada
brasileira. A hora da estrela foi o
último romance publicado em vida pela escritora e o penúltimo escrito. Em 1985, a obra foi adaptada
para o cinema por Suzana Amaral.
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