sábado, 23 de novembro de 2013

Som de Lá - Selvagens e sombrias

Quatro mulheres estranhas fazendo um som barulhento e sombrio. Esse é o Savages, banda formada na Londres cinzenta que aposta na simplicidade do baixo, guitarra e bateria para fazer um bom rock sem firulas e cheio de boas referências. Joy Division, Siouxsie and the Banshees, Public Image Ltd, William Golding... Música e literatura se misturando e ajudando a criar música rasgada, pesada.

Do livro de Golding, Senhor das Moscas (1954), saiu o nome do grupo. Já o canto melancólico de Jehnny Beth e a linha melódica construída pelas companheiras Gemma Thompson (guitarra), Ayse Hassan (baixo) e Fay Milton (bateria) fazem referência ao pós-punk e o noise rock do fim dos anos 1970. Essas características guiam o disco de estreia da banda, Silence Yourself (Matador Records - 2013).

De cara o trabalho já mostra a selvageria punk das meninas nas faixas "Shut Up", "I Am Here" e "City's Full". "Strife" diminui o ritmo, indicando o caminho da faixa seguinte, mas sem diminuir o peso e a distorção. E então chega "Waiting For a Sign", ponto de elevação do disco, apesar da melodia depressiva e bem executada. Jehnny consegue mostrar sua força vocal nesta faixa.



Ruídos e sons mais abstratos dão o tom da instrumental "Dead Nature", que funciona como um prelúdio para a segunda parte do álbum. A partir daí a banda volta ao ponto inicial e mostra que fazer barulho não é algo tão simples. "She Will" e "No Face" apostam mais uma vez na estética punk, com frases e palavras se repetindo como em um hino, ou um mantra esquisitão.

"Hit Me" é um psychobilly psicótico, que fala sobre uma relação violenta. Outro ponto alto do disco é "Husbands", que é claramente influenciada por Joy Division. Batidas marcadas, riffs intensos e mais uma vez a palavra repetida como um eco. "Marshal Dear" se diferencia do resto do álbum pela inclusão de metais e teclados, e encerra o disco em um clima melancólico.



As letras da banda abordam temas como depressão, violência, amor e caos. Pode-se adicionar à receita musical um pouco de poesia byroniana. Mas mesmo com o clima sombrio - reforçado pelas fotografias em preto e branco e as roupas escuras - o Savages conseguiu se mostrar uma das melhores revelações deste ano.

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