Confesso que me senti motivada a
ir ao cinema assistir O Mordomo da Casa
Branca (2013) primeiro por ter Forest Whitaker no papel principal e, em
seguida, pelo detalhe de ser baseado em fatos reais. A história dos Estados
Unidos não me desperta grandes curiosidades, mas achei interessante o longa-metragem
abordar a luta e a conquista pelos direitos dos negros no país. Depois que o
assisti fiquei um pouco decepcionada ao procurar mais informações sobre o filme
e ver que na verdade ele foi ‘livremente adaptado’ com base na vida do verídico
mordomo Eugene Allen, que faleceu em 2010. A descoberta fez com que fosse mais
fácil entender algumas escolhas feitas pelo roteirista e diretor Lee Daniels,
que também assina pelo aclamado Preciosa –
Uma História de Esperança (2009), mas tirou um pouco da magia.
Em um resumo rápido... Forest Whitaker
dá vida ao personagem Cecil Gaines na fase adulta. O longa começa com Cecil
ainda pequeno e a conturbada vida na fazenda de algodão. Durante o trabalho na
plantação, ele vê o pai ser morto ao confrontar o abuso sofrido por sua esposa
por um dos proprietários da terra. A mãe de Cecil fica perturbada depois de ser
violentada sexualmente e após a morte do marido. O menino é tirado da lavoura pela
matriarca dona das terras e é ensinado a ser um “negro de casa”, ocupação em
que aprende a ser um servil. Na adolescência, foge da fazenda e consegue um emprego
em um restaurante. Após se mudar para a capital Washington por conta de um novo
emprego, é indicado por um olheiro para trabalhar na Casa Branca servindo
diretamente ao presidente dos Estados Unidos. A vida pessoal do mordomo é
explorada principalmente através do confronto direto com o filho mais velho, Daniels,
que tem um posicionamento político diferente, e da relação com a dedicada
esposa, vivida muito bem por Oprah Winfrey.
A participação do filho em
movimentos que lutaram pela igualdade social dos negros faz um caminho mais
interessante do que os curtos diálogos que Cecil tem com os oitos presidentes a
quem serviu em mais de trinta anos. Ao lado de Daniels é possível acompanhar a
consolidação e o enfraquecimento da ideologia de Martin Luther King, as ações
brutais da Ku Klux Klan e o surgimento do Panteras Negras. Intercalado com
imagens reais da época, ao mesmo tempo em que o espectador é tirado rapidamente
da ficção, recebe um golpe no estômago. Uma pena as fortes imagens terem
acontecido em um passado não tão distante.
Os diálogos do mordomo com os
presidentes são muito enxutos, mas foram postos para dar o efeito de que o
trabalhador, com sua simples visão sobre a vida, pôde influenciar nas grandes
decisões e esteve, de certo modo, por trás dos planos na busca pela igualdade
racial. As mais de duas horas de filme poderiam ter sido melhores aproveitadas
sem esses trechos. Alguns presidentes se transformaram em caricaturas, outros,
exaltados sem nenhum motivo. Sabe como é, o ‘orgulho americano’ tinha que
escoar por algum canto.
O que melhor define a importância
de Cecil sem dúvidas é a fala de um dos amigos de Daniels. Envergonhado pelo
trabalho do pai, ele fala com alguns amigos politizados sobre a função na Casa
Branca. É justamente a justificativa do colega que, quando percebida, quebra o
confronto entro o negro servil – o mordomo – e o politizado – o filho. No dia a
dia, Cecil conseguiu conquistar um espaço social importante. Não me refiro ao
trabalho na Casa Branca, mas ao fato da preocupação em dar educação aos filhos,
o que ele próprio nunca teve, e mantê-los longe de uma plantação de algodão,
como tanto reforça. Uma casa própria bem decorada, com bons eletrodomésticos e
um carro na garagem. Não quero me referir a conquistas materiais. Longe disso. Mas
há vitória melhor do que não precisar depender de alguém? A história de
superação de Cecil se trata de liberdade pessoal.
Para não deixar de citar, o
elenco de apoio traz nomes bem conhecidos como John Cusack, Robin Williams,
Cuba Gooding Jr., Terrence Howard, Lenny Kravitz, entre tantos outros. O famoso
elenco serve para reforçar o carisma de Cecil. Talvez ao invés de apostar em
tantas estrelas, fosse melhor concentrar a atenção em um núcleo menor para
desenvolver partes interessantes que só receberam umas rápidas pinceladas.
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