sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Ao Vivo - Pra ficar na memória

O Circuito Banco do Brasil aparentemente é uma ideia interessante: fazer uma turnê itinerante com música, arte e esporte. Algo comum no exterior. Apesar disso, a execução não foi das melhores. A etapa carioca do festival foi realizada no dia 9 de novembro, no Parque dos Atletas - também conhecido como Cidade do Rock. Mas o que se viu ali foi uma tentativa frustrada de se fazer um evento grandioso.


Começando pelo espaço, com o chão repleto de poças de água. Não sei se foi pela chuva de dois dias antes ou por vazamentos que nem no Rock in Rio. Também houve desorganização na hora de compra e venda de fichas para alimentação. O público comprava a ficha acreditando que poderia usá-las tanto nos bares e lanchonetes, quando nos vendedores ambulantes. Mas estes, só aceitavam dinheiro.

A saída foi um caso a parte. O público deveria pegar ônibus em uma rua próxima ao Parque dos Atletas, mas a desorganização das filas e a falta de informação forçou muita gente a pegar táxis ou a andar alguns metros em busca de outra alternativa de transporte. Os mais resistentes ficaram nos pontos, mas demoraram para embarcar ou conseguiram sair rápido, mas em transporte lotado.

Mas a saída não deve ter apagado os grandes shows da noite. Rodrigo Amarante + Tom Zé, Detonautas e Scracho se apresentaram no Palco Brasil, o menor. A programação do Palco Circuito, o principal, começou às 18h30, com um show dos Raimundos. Entre sucessos como "A Mais Pedida", "Mulher de Fases", "Reggae do Maneiro" e "Puteiro e João Pessoa" houve espaço para o apelo à volta da Rádio Cidade, que atuava no dial carioca até 2006 tocando apenas Rock.

Em seguida, os veteranos dos Titãs se apresentaram com um repertório que contagiou todo o público do evento. Grande parte das músicas eram dos discos mais antigos da banda, mas que mesmo assim, a plateia formada por jovens entre 15 e 30 anos cantavam sem errar as letras. As mais recentes eram "Vossa Excelência" e "Epitáfio". Eles não precisaram fazer discurso político, ou defender as manifestações, as letras falavam por si só e, por isso, causaram um êxtase no público que cantou "Polícia", "Aluga-se", "Bichos Escrotos" e "Homem Primata".

O show mais controverso da noite foi o do Yeah Yeah Yeahs. Pela segunda vez no Rio - a primeira apresentação foi no Tim Festival em 2006 -, o trio formado por Karen O, Nick Zinner e Brian Chase não agradou muito aos fãs do Red Hot Chili Peppers. Talvez fosse o setlist com músicas menos pop, ou o visual extravagante da vocalista, que tem um jeito bem característico de cantar, ou talvez seja tudo isso. O fato é que muita gente aproveitou o show da banda de Nova Iorque para tomar uma cerveja ou descansar - os mais mal educados aproveitaram para vaiar e xingar a banda.

"Mosquito", música que batiza o disco lançado por eles este ano, abriu o show com uma pegada roqueira e pesada, destacando a voz esganiçada e punk de Karen. O set seguiu com "Man" e "Gold Lion", primeiro momento que o público interagiu com a banda, batendo palmas com o ritmo de "We Will Rock You" do Queen. As ótimas "Under The Earth" e "Rockers to Swallow" não agradaram o público que só se animou com o hit "Zero", que transformou o lugar em uma pista de dança. As românticas e melódicas "Cheated Hearts", "Maps" e "Despair" empolgaram os fãs. Logo em seguida veio "Sacrilege", uma das melhores músicas do ano, e o público se animou mais uma vez, com o refrão cantado por um coral pré-gravado. "Heads Will Roll" e "Date With The Night" encerraram muito bem o show, mas a longa pausa que a banda faz na última música irritou mais ainda os fãs mais chatos da última banda. Pior pra eles, que perderam uma apresentação original e fora do comum.

Enfim o Red Hot Chili Pepper chegou. Apesar do repertório ser bem parecido, a banda pareceu mais entrosada, principalmente o guitarrista Josh Klinghoffer, que assumiu a posição do incrível John Frusciante no trabalho mais recente do grupo, I'm With You (2011). Se há dois anos, no Rock in Rio, a banda ainda testava as novas músicas ao vivo, dessa vez eles pareciam mais seguros em todas as faixas. O show foi bem melhor que o da última passagem por aqui, principalmente por conta do som, dando para ouvir bem todos os instrumentos. Vez ou outra a guitarra parecia mais baixa. O sax de "Did I Let You Know" também pareceu desregulado, mas fora isso, foi tudo certo.

A escolha das músicas foi bem feita. Tiveram os hits "Californication", "Can't Stop", "Dani California" e "Under The Bridge", e faixas menos recorrentes como "I Like Dirt" e "Blood Sugar Sex Magik". Eles também colocaram músicas que agradam o público, mas ficaram de fora da última apresentação como "Universally Speaking", "Snow" e "Meet me on the Corner". Apesar de parecer repeteco, as 40 mil pessoas que foram ao evento sentiram que valeu a pena.

O festival foi marcante pelos bons shows, com som bem mixado, mas também - infelizmente - pela desorganização.

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