quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Som de Cá - "Quem é que vai me abraçar?"

A cena de rock do nordeste está em alta. Se em 2003, quando a baiana Pitty surgiu na grande mídia, ter bandas desse estilo fora do sul e sudeste, hoje ninguém se espanta quando se ouve falar de festivais alternativos e grupos interessantes despontando na cena. Foi neste contexto, em 2011, em Natal, no Rio Grande do Norte, que Simona Talma e Luiz Gadelha juntaram seus sobrenomes para dar nome à banda que contaria ainda com Henrique Geladeira, Emmily Barreto e Cris Botarelli.

É então que, com o apoio da iniciativa cultural DoSol - que conta com selo, casa de shows e produtora -, Talma&Gadelha lançam o primeiro disco, Matando o Amor (2011). O sentimento assassinado no título é o fio condutor da jornada de cerca de 30 minutos. O som da banda não tem firulas, um rock simples sem as afetações apoteóticas do indie rock atual. As vozes também são marcantes. A voz doce e delicada de Talma casa muito bem com o vocal rasgado de Gadelha.

O álbum de estreia tem uma linha bem definida. "Enigma" e "Porque Todo Coração é Burro" seguem uma linha mais ensolarada, enquanto "Doce Hora" e "Se Fosse Feio" são mais densas e melancólicas. "Cola em Mim" traz uma pegada quase eletrônica. O rock sessentista aparece em "Mais Uma Cereja" e "Bons Meninos", que também se destacam pelo refrão chiclete.


A faixa-título encerra bem o primeiro trabalho da banda. Triste e poética, a música fala de alguém que tenta se esquecer do passado e convivendo com a dor e o sofrimento. A levada blues intensifica esse sentimento, que pode ser um grande incômodo. Mas como diria Vinicius, "amor só é bom se doer".

Este ano, os potiguares lançaram Maiô, que começou a ter seu embrião desenvolvido após a primeira turnê da banda em São Paulo, em 2012. O disco tem uma sonoridade mais urbana e letras que refletem as impressões sobre a maior metrópole do país. "Quem é que vai me abraçar?", pergunta Talma na canção que abre e dá título ao álbum. Um reflexo da solidão sentida em meio ao concreto e a saudade de "ir à praia de maiô".


Maiô também é um disco de parcerias. A primeira a aparecer é "Homem de Lata", que Gadelha compôs com Jajá Cardoso, do Vivendo do Ócio. Apesar da letra reflexiva, ela mantém o clima do disco ensolarado e é seguida por "Anjo Exterminador", que os cabeças da banda fizeram com a paulistana Andréia Dias.


"Espanto" conduz o disco para uma linha mais melódica e abre espaço para a urbana "Em Nome do Amor". Andrea Martins, vocalista da banda baiana Canto dos Malditos na Terra do Nunca, é parceira de Gadelha nesta letra que fala sobre saudade, lembrança e amor duradouro.


E quem não quer um amor? Em "Amigo Cupido" Talma canta para que um anjo acerte a flecha para curar o coração partido. "O Mais Esperto" conta a história de alguém que se acha inteligente, mas acha amor uma perda de tempo. Dessa vez Gadelha divide a composição com outra potiguar, Khrystal.


Ela e Talma participaram da segunda temporada do The Voice Brasil. Talma foi escolhida por Carlinhos Brown, mas foi eliminada na segunda etapa. Pior para o público que perdeu uma ótima voz. Khrystal se destacou e continuava no programa até o fechamento deste texto.

Talma se entrega em "Saturno", o momento mais bonito do disco. "Calmantes" dá um novo gás para o disco e mais uma vez a dupla de vocalistas canta a saudade de casa, da televisão e de ter o chão nos pés. Mais uma vez, a banda escolheu um blues pra encerrar o disco, outra ótima parceria de Gadelha com Andrea Martins, "Voltar ao Começo".


Maiô mostra um som mais seguro, mais bem trabalhado. A experiência em uma cidade diferente, as novas parcerias, e a forma de falar do cotidiano através de um novo olhar faz com que Talma&Gadelha ganhem destaque na cena local e conquistem espaço em palcos alternativos de todo o país.


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