quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Na Tela - Lado B

Um sobrado na caótica São Paulo abriga na sua fachada uma loja de discos. O resto do imóvel é a casa de Durval (Ary França) e sua mãe Carmita (Etty Fraser). Os discos de vinil estão em declínio. A onda agora é o CD. Ninguém quer saber de discos grandes, com dois lados, capa bem trabalhada e difícil de carregar. CDs são mais práticos, podem ser ouvidos no carro, em aparelhos portáteis.

Este é o cenário de Durval Discos (2002), filme de estreia da cineasta Anna Muylaert, que conta a história de um vendedor de LPs que lucra pouco já que as pessoas só querem comprar os discos compactos. A discussão sobre CD versus Vinil é apenas o lado A do roteiro. O lado B começa a se desenvolver quando Durval tenta convencer a mãe a contratar uma cozinheira para a casa.

Apesar de contrária à ideia, Carmita acaba cedendo e contrata Célia (Letícia Sabatella), uma moça prendada que sabe fazer todos os mousses possíveis e cozinha qualquer tipo de comida. A jovem trabalha por uns dias e depois desaparece. Quando os donos da casa vão procurar no quartinho onde ela dormia acabam encontrando uma criança.

Kiki (Isabela Guasco) muda a rotina da mãe e do filho. Os dois tentam esconder a menina e ao mesmo tempo encontrar a família dela. Após as tentativas frustradas de encontrar a família ou a empregada, a dupla resolve cuidar da menina. Carmita então se apega a garota e começa a tratá-la como uma neta. Quando questionados pelos vizinhos e pela amiga Elisabeth (Marisa Orth), Durval despista falando que Kiki é uma sobrinha.

O filme é embalado por uma trilha sonora bem brasileira. Mulheres Negras, Caetano, Tim Maia, Rita Lee. Esta, aliás, faz uma ponta no filme no papel da louca tia Julieta, que compra um disco na loja, paga, mas esquece de levar. Outras figuras interessantes também aparecem na loja para comprar CDs ou são entrevistadas por Carmita para a vaga de empregada.

Muylaert constrói um roteiro interessante e repleto de surpresas. O desenvolvimento é gradativo e o desfecho é inesperado. Aliás, esta é uma boa característica da diretora que sempre investe em elementos surpresa em seus filmes. Durval Discos acaba se revelando um filme não só sobre música, mas sobre a mente humana e a obsessão.

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