“Qualquer semelhança com a realidade não terá sido mera
coincidência. Dúvidas, consulte um advogado.”. Esse é o trecho final da
nota que encerra Máquina de Pinball escrito
por Clarah Averbuck. A obra, que tem a proposta de trazer relatos pessoais, tem
o tom sarcástico, típico da escritora.
Conhecida na internet por seus blogs pessoais brasileira!preta e adeus lounge, a escritora põe na obra o jeito da escrita na
blogosfera. Com frases curtas, relatos pela metade, pensamentos despejados no
colo do leitor sem melodrama e desculpas, Clarah mistura muitas de suas boas
histórias de vida com uma pitada de ficção sem que o texto beire ao ridículo.
Com pinceladas de sarcasmo e sem meias-verdades,
Clarah construiu uma obra que pode dar inveja às pessoas que gostariam de sair
do marasmo ao romper com padrões. A falta de dinheiro é o menor dos problemas. Quem
precisa comer direito quando é possível conseguir bebidas de graça nos bares e
colocar bem alto o som do rock (de preferência dos Strokes) para abafar o som
do ronco do estômago?
“Então, para os fodidos, rock e miojo. Mas miojo light, porque não quero virar uma pêra. Já basta ser pobre, se também inventar de ficar gorda vai ser foda.”
A protagonista Camila é definida como uma “mulher
com bolas”. Com vaidades do universo feminino – “maquiagem,
salto agulha, piercing no umbigo e esmalte com glitter” –, a personagem se
diverge ferozmente da típica mocinha de tantas obras literárias. Camila tem atitudes
diferentes. Nada de desculpas ou delicadezas. A conquista dos homens ‘one-night
stand’ é a base da maioria dos capítulos, além da frustração com a carreira de
escritora.
Livro Máquina de Pinball |
Citações de músicas, artistas internacionais
do rock e conceituados escritores literários ajudam a compor a obra. São esses
trechos que aproximam a protagonista do universo dos jovens que hoje encontram
na internet, com a explosão de influências culturais, a melhor maneira de se
expressar.
O livro não traz muitos diálogos de
Camila os personagens que somem tão rápido como apareceram. O único apego real
da protagonista parece ser o gato Julian, adotado quando ela mal tinha chegado
à cidade. A rapidez com que elementos e pessoas entram e saem na vida de Camila
segue o mesmo ritmo de narração dos capítulos. Frases curtas e palavras em
sequência dão ao texto a sensação de que o leitor na verdade escuta a
protagonista contar os relatos. A mistura de assuntos contados em partes que se
contrapõem e se entrecruzarem dão o tom de uma conversa muito acelerada, típico
das pessoas que têm muito o quê falarem e não conseguem conter o silêncio.
Clarah é de Porto Alegre e se mudou para São Paulo
em 2001, quando começou a escrever o livro. Sozinha, longe do conforto e
proteção dos pais, foi na poluída e movimentada cidade, que a escritora viveu grande
parte do que é relatado na obra. Antes de publicar Máquina de Pinball, Clarah postava no brasileira!preta, seguindo a mesma linha de escrita do impresso.
Máquina
de Pinball é a obra de estreia de Clarah Averbuck e foi
lançada em 2002, pela Editora Conrad. O livro inspirou a obra cinematográfica Nome Próprio (2007), do diretor Murilo
Salles, que traz a atriz Leandra Leal na pele da protagonista Camila. Antes, Máquina de Pinball, ganhou adaptação
para o teatro, em 2003, sendo roteirizado por Antônio Abujamra – autor do prefácio – e Alan Castelo.
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