quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Na tela - Escrita em pixels para minimizar a angústia


Adaptado de Máquina de Pinball, obra da escritora e blogueira Clarah Averbuck (resenha de Quem conta um conto desta semana), Nome Próprio chegou aos cinemas 2007, sobre a direção de Murilo Salles, trazendo Leandra Leal na pele de Camila. Explorando recursos visuais e sonoros, a obra cinematográfica levou para as grandes telas o universo do início dos blogs no Brasil e os romances (ou seriam casos?) vividos pela protagonista.

Mantendo um jeito pouco educado – e até meio rude –, Camila mostra o jeito nada comum, até mesmo para os dias de hoje, de mulheres encararem a relação a dois. Sem poupar xingamentos e sem paciência para conversa fiada, a personagem vive intensas dúvidas sobre relacionamentos, não só com os homens, mas consigo mesma. Sempre em busca de novidades, enjoando rápido daquilo que – ou de quem – já conquistou, ela se pega perdida em meio a dúvidas.

Camila é definida como uma “mulher com bolas”. O comportamento dela pode até mesmo se assemelhar ao de um homem cafajeste, mas seria raso demais delimitar assim. O que a protagonista tem é uma sede pelo novo. Embora acabe magoando alguém aqui e outro ali, esse pode ser um dos melhores modos de descrevê-la.

O primeiro momento do filme já mostra o temperamento difícil de Camila. A cena inicial traz uma briga entre ela e o namorado que discutem porque ele foi traído e descobriu. Ao ser expulsa de casa, após resistir bastante, Camila vai morar com um amigo. Depois de ter que sair da casa dele, ela começa a viver altos e baixos. Sempre escrevendo os desabafos no blog, a protagonista tenta minimizar suas angústias e erros publicando material que conquista alguns fãs, alguns inimigos e algumas vítimas usadas como inspiração (como o ex-namorado). Durante a trama acompanhamos desamores até surgir um que parecia promissor. A relação do escritor com sua produção também é discutida, sendo comparado ao ato de se despir, de deixar-se ver da maneira mais clara. E é isso que Camila faz no blog, colocando a si mesma em cada linha.

Esse é um filme que, de certa maneira, traz a tentativa de se descobrir em meio à angústia tão forte presente na geração do computador (a famosa geração y que todos querem entender). O computador entra como elemento fundamental, fazendo papel de válvula de escape. Escrever, tornar-se palavra, dedilhar o sentimento até transformá-lo em texto para jogar para o mundo diminui esse aperto no peito entalado de dúvidas. No momento da vida em que errar e acertar é preciso para não só crescer, como para se descobrir, ter medo de assumir riscos é mais perigoso do que tentar. Quebrar a cara e os sentimentos de alguns não parece tão doloroso.

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