Não é novidade o cinema tentar retratar a angústia da adolescência e a
dura tarefa de crescer no meio de tantos questionamentos e enxurradas de
escolhas que quase sufocam. Persépolis
traz ingredientes novos para essa receita que parece batida. A começar pela
vida da protagonista Marjane, que no momento que passa da infância para a
adolescência, vê seu país sofrer uma revolução, o que influencia diretamente –
e de forma brutal – na vida da personagem.
Lançado em 2007, o longa francês é autobiográfico da diretora Marjane
Satrapi, escritora da graphic novel homônima. Na história, Marjane conta como
foi forçada a crescer a partir do momento em que teve que conviver com as
regras impostas pelo governo que tomava o controle do país com a Revolução
Iraniana, em 1979.
Criada em uma família com costumes ocidentais, Marjane vê, pouco a
pouco, parentes serem punidos pelo governo por se oporem ideologicamente. O
regime instaurado não permitia brechas. O conjunto de regras era rígido e a promessa
de tempos melhores se distanciava. Para dificultar ainda mais, o Irã e o Iraque
entraram em guerra. O governo de Saddam Hussein aproveitava a instabilidade
política dos vizinhos para se fortalecer. A ameaça vinha de dentro e de fora do
país. Tropas vigiavam a população para assegurar os bons costumes enquanto
bombas e mísseis explodiam em alvos civis.
Diante de um cenário tão brutal, Marjane é enviada para Viena, na
Áustria. Fora da proteção dos pais e sem os conselhos da avó, a protagonista se
vê forçada a amadurecer e, com muita dificuldade, começa a descobrir sobre si.
No meio de um turbilhão de dúvidas e conflitos, a adolescente busca um lugar
onde consiga se encaixar. O sentimento de não pertencimento é um companheiro
constante. Enquanto no Irã o gosto pela música punk/rock era alvo de
descriminação e até de perseguição, em Viena a identidade persa pesa como um
crime.
A protagonista vai de encontro ao regime instaurado por meio da música
e das roupas. Com tênis Adidas e Nike, jaqueta com button do Michael Jackson e
discos do Iron Maiden, Marjane contesta de forma singela e incisiva a falta de
liberdade de escolhas e a padronização forçada de gostos e costumes. A música é
tida como válvula de escape de um mundo sem saída.
O filme é uma animação, o que resulta em uma belíssima produção. Com
imagens em preto e branco em sua maioria, em nada deixa a desejar. A ausência
de cor remete às lembranças da nebulosa época da adolescência. Os desenhos
compõem cenários simples que retratam a complexidade de um período conturbado
em que reviravoltas inesperadas são assistidas através dos olhos de uma criança
que pouco sabia sobre si mesma.
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