quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Na Tela - A complexidade da descoberta


Não é novidade o cinema tentar retratar a angústia da adolescência e a dura tarefa de crescer no meio de tantos questionamentos e enxurradas de escolhas que quase sufocam. Persépolis traz ingredientes novos para essa receita que parece batida. A começar pela vida da protagonista Marjane, que no momento que passa da infância para a adolescência, vê seu país sofrer uma revolução, o que influencia diretamente – e de forma brutal – na vida da personagem.

Lançado em 2007, o longa francês é autobiográfico da diretora Marjane Satrapi, escritora da graphic novel homônima. Na história, Marjane conta como foi forçada a crescer a partir do momento em que teve que conviver com as regras impostas pelo governo que tomava o controle do país com a Revolução Iraniana, em 1979.

Criada em uma família com costumes ocidentais, Marjane vê, pouco a pouco, parentes serem punidos pelo governo por se oporem ideologicamente. O regime instaurado não permitia brechas. O conjunto de regras era rígido e a promessa de tempos melhores se distanciava. Para dificultar ainda mais, o Irã e o Iraque entraram em guerra. O governo de Saddam Hussein aproveitava a instabilidade política dos vizinhos para se fortalecer. A ameaça vinha de dentro e de fora do país. Tropas vigiavam a população para assegurar os bons costumes enquanto bombas e mísseis explodiam em alvos civis.


Diante de um cenário tão brutal, Marjane é enviada para Viena, na Áustria. Fora da proteção dos pais e sem os conselhos da avó, a protagonista se vê forçada a amadurecer e, com muita dificuldade, começa a descobrir sobre si. No meio de um turbilhão de dúvidas e conflitos, a adolescente busca um lugar onde consiga se encaixar. O sentimento de não pertencimento é um companheiro constante. Enquanto no Irã o gosto pela música punk/rock era alvo de descriminação e até de perseguição, em Viena a identidade persa pesa como um crime.


A protagonista vai de encontro ao regime instaurado por meio da música e das roupas. Com tênis Adidas e Nike, jaqueta com button do Michael Jackson e discos do Iron Maiden, Marjane contesta de forma singela e incisiva a falta de liberdade de escolhas e a padronização forçada de gostos e costumes. A música é tida como válvula de escape de um mundo sem saída.

O filme é uma animação, o que resulta em uma belíssima produção. Com imagens em preto e branco em sua maioria, em nada deixa a desejar. A ausência de cor remete às lembranças da nebulosa época da adolescência. Os desenhos compõem cenários simples que retratam a complexidade de um período conturbado em que reviravoltas inesperadas são assistidas através dos olhos de uma criança que pouco sabia sobre si mesma.



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