A resenha de hoje é de duas obras
de Machado de Assis. Antes que você, caro leitor, ache que vou falar sobre Helena, Dom Casmurro ou sobre os conflitos de Esaú e Jacó, ou quem sabe sobre uma Casa Velha, está enganado. Também não vou relembrar as Memórias Póstumas de Brás Cubas e nem
contar Histórias sem Data. Tão menos
ensinar Lições de Botânica ou falar
sobre um Quase Ministro. No Quem conta um conto de hoje, trago –
humildemente – a resenha das comédias de estreia de Machado de Assis no teatro.
Encenadas em setembro e novembro
de 1862, O caminho da porta/O protocolo
foram publicadas em 1863, no Diário do
Rio de Janeiro. As comédias têm pinceladas de semelhanças. Os homens apaixonados
fazem seus galanteios para tentar derreter o coração de suas musas e os
desfechos são inesperados.
Em O caminho da porta, a atenção e o amor da viúva Carlota são
disputados pelo jovem poeta Valentim e pelo velho Inocêncio. Os dois
pretendentes expõem suas melhores qualidades a fim de conquistar a musa que não
está convencida em ceder a um romance.
"Valentim
É esse o caminho do seu coração?
Carlota
Queria que eu própria lho indicasse? Seria trair-me, e tirava-lhe a graça e a glória de encontrá-lo por seus próprios esforços.
Valentim
Onde encontrarei um roteiro?...
Carlota
Isso não tinha graça! A glória está em achar o desconhecido depois da luta e do trabalho... Amar e fazer-se amar por um roteiro... oh! Que coisa de mau gosto!"
Imagem retirada daqui. |
Doutor Cornélio ora intervém para
ajudar um dos interessados, ora para atrapalhar-los. Embora, em determinadas
situações, seja um pouco inconveniente, o doutor é quem faz com que a história
se desenrole por meio de seus conselhos e observações sobre as tentativas de
conquista.
O desenrolar da peça é o seu
ápice. Carlota, por não se decidir, acaba perdendo os dois, que se sentem
cansados pela dúvida da viúva.
“Quando não se pode atinar com o caminho do coração, deve-se tomar sem demora o caminho da porta.”
Já em O protocolo, Venâncio Alves tenta conquistar Elisa, que está em
crise no casamento com Pinheiro. Assim como os dois apaixonados do texto
anterior, Venâncio galanteia sua amada por meio de metáforas e pronunciamentos
não tão diretos. As intenções dele são logo desmascaradas por Lulu, prima de
Pinheiro. É ela quem alerta Elisa sobre o interesse de Venâncio, que se
aproveita do momento de abalo do relacionamento.
Quando Pinheiro descobre o
interesse de Venâncio em Elisa, logo trata de esclarecer sobre os rumos que o
relacionamento entre os dois não deve tomar.
“Ouvi falar de uma conferência e de umas notas... uma intervenção da sua parte na dissidência de dois estados unidos pela natureza e pela lei; gabaram-me os seus meios diplomáticos, as suas conferências repetidas, e até veio parar às minhas mãos este protocolo, tornado agora inútil, e que eu tenho a honra de depositar em suas mãos.”
Na primeira edição publicada dos
dois textos, Machado de Assis optou por trazer a carta que enviou ao jornalista
Quintino Bocaiúva e a resposta que recebeu sobre as obras. O escrito
se mostra inseguro quanto à encenação de seus trabalhos e a reação do público. Bocaiúva
explica que as histórias estão bem escritas, mas que as “comédias são para
serem lidas e não representadas”. Embora a crítica possa parecer dura, não está
errada quanto ao fato de que são ótimas leituras.
Conhecido pela publicação de
romances, o escritor brasileiro – e grande nome de nossa literatura – transitou
com maestria por muitos outros estilos embora não tão conhecidos. Além de
contos e poesias, Machado de Assis se dedicava a tradução e crítica de peças
encenadas no antigo teatro S. Pedro de Alcântara e no Ginásio Dramático, no Rio
de Janeiro. Antes dos textos resenhados aqui, Machado de Assis escreveu e
publicou para o teatro Hoje avental,
amanhã luva (1860) e Desencantos (1861).
A obra completa do autor pode ser
acessada de forma gratuita no site comemorativo do centenário de Machado de Assis.
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