Embora o Dia Mundial do Planeta Terra tenha sido na última segunda, dia 22 de abril, aproveito o tema para falar de um filme que retrata de maneira belíssima a contemporaneidade. Aos mesmo tempo em que mostra o caminho caótico a que parece que o mundo está tomando por consequência do consumo desenfreado, Lixo Extraordinário (Waste Land, 2010) traz de forma clara e poética tantas coisas, e pessoas, que fingimos não ver, pelo menos no cotidiano.

O longa dá um nó na garganta ao fazer o expectador perceber como pode ignorar tantas coisas e pessoas. Uma parcela da população que vive a margem da sociedade consegue se reorganizar em um ambiente com condições precárias para ganhar a vida de maneira honesta. É de engolir a seco os depoimentos dos personagens que dizem se alimentar com o que outros jogam fora. As vezes nem todas as folhas do molho de alface estão ruim e o iogurte fora da validade ainda pode ser consumido.
São quatro os catadores que se destacam como personagens. Zumbi, que é visto como a figura intelectual. Responsável por montar uma biblioteca no aterro com os livros que encontrou no lixo, Gramacho é sua forma de sustento desde os nove anos. Suelem também começou a trabalhar no aterro muito cedo, aos sete anos. Na época das gravações, ela tinha dois filhos e estava grávida do terceiro. Embora não visse problema em ser catadora de lixo, tinha o sonho de poder ficar em casa para acompanhar o crescimento das crianças. Isis é, talvez, a mais sonhadora do grupo. Vaidosa e com interesse em moda, é a que aparenta ter se apegado mais ao projeto de Vik Muniz. Ela não gosta de trabalhar no aterro e vê no trabalho com o artista a chance de mudar de vida. É, sem dúvidas, quem o universo artístico conseguiu intervir na vida em todas as esferas. Tião é o personagem que ganha um pouco mais de destaque. Com um jeito simples e cativante, conta sua história e como aos poucos ganhou destaque na luta por direitos dos trabalhadores do aterro. Ele é quem viaja com Muniz acompanha o leilão das peças, resultado do projeto. De perto, ele vê a fotografia que ajudou a criar conquistar o público e ser vendida por 28 mil libras.
É incrível se dar conta de como o que nos parece sem serventia ganha outra função, outro significado. O lixo é transformado em casa, alimento, dinheiro, brinquedo, obra de arte, filme. Pessoas que se tornam invisíveis em meio a imensidão de coisas descartáveis definem quem somos, nosso estilo de vida, nossa classe social, ao olhar para o saco de lixo ainda fechado e ver suas formas, seu peso e o barulho dos objetos dentro dele. Somos facilmente decifráveis. Encaixamo-nos em rótulos por meio de embalagens que jogamos fora.
Lixo Extraordinário conquistou diversos prêmios ao redor do mundo, incluindo Prêmio da Anistia Internacional e Prêmio do Público de Melhor Documentário, ambos no Festival de Berlim, em 2010.
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