Kanye West - Yeezus (2013) |
por Maria Clara Frasso
Desde que o álbum Yeezus, do rapper norte-americano Kanye West, foi lançado no dia 18 de junho, há um alvoroço entre jornalistas, produtores, músicos, fãs e haters. Há quem diga que o disco é uma nova maravilha fonográfica do egocêntrico West, que na busca de um som autêntico e vanguardista lança-se numa aventura que não pode ser percebida por todos, mas que representa um passo gigantesco na indústria musical. Por outro lado, há os que não se conformaram com a produção e as influências do disco, dando após pouco tempo de lançamento um ultimato de que era apenas um disco ruim na trajetória do polêmico rapper. É claro que o vasto raio de opiniões não se limita a estas duas correntes, mas é curioso ver mais um álbum de Kanye entre o bem e o mal, ou mais precisamente entre o céu e o inferno. Pessoalmente, essa é uma das características da trajetória de West que mais me agrada: sua vontade incansável de se distanciar do mediano, acarretando com isso, que suas críticas estejam de acordo com o famoso “ame ou odeie”. Kanye West dificilmente lançará um trabalho musical em que as opiniões se perpetuarão entre o limbo do mais ou menos.
O álbum solo anterior, My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010), caiu como uma luva nas mãos de públicos e críticos, com sua sonoridade arrojada, cheia de interferências e muitos detalhes megalomaníacos e por isso rendeu a West diversos prêmios, inclusive o Grammy de Melhor Álbum de Rap do Ano. Dessa vez, em Yeezus, Kanye veio com tudo para conseguir o almejado Grammy de Melhor Álbum do Ano, porém com uma produção focada no minimalismo e na preocupação em se manter original e sempre a um passo a frente, garantindo seu merecido posto entre um dos melhores artistas do mundo.
Já na abertura do álbum, a música “On Sight”, co-produzida e co-escrita pelo Daft Punk, avisa aos navegantes de Yeezus que a maré será atípica, ainda que se trate de West. Porém, alguns elementos essenciais permanecem intactos, como por exemplo, a paixão, vivacidade e sinestesia nas palavras quase que professadas nas canções. A interpretação das letras explosivas e confessionais, denotam que mais uma vez Kanye não quer apenas se retratar, mas também criar e, ainda que seja difícil perceber logo de cara, emocionar. Afinal, é o fato de West ser passional que o tornou controverso em premiações musicais, um parceiro ideal para o mais calculista Jay-Z e um conhecedor ávido das emoções e de seus pensamentos. Unindo essas características ao seu comprometimento e principalmente a sua vontade de elevar seus limites até onde o céu pode chegar, é que a cada álbum novas discussões surgem para compreender o trabalho feito.
Yeezus é uma espécie de enciclopédia de trabalho moderno, onde cada música pode te levar a uma viagem tanto técnica, quanto emocional, que West faz questão de costurar através de conceitos únicos em cada álbum que lança. A mistura entre eletrônico, punk e rebeldes sintetizadores ao se aliar a riquezas como o sample de Strange Fruit, na faixa “Blood on the Leaves”, cuja voz de Nina Simone traz calafrios e dores inenarráveis, transforma a experiência de ouvir música em uma experiência de vivenciar um álbum de West.
Como de costume, Yeezus também contou com uma lista imensa de colaboradores e produtores, dentre eles os já citados franceses da dupla Daft Punk, Thomas Bangalter, Justin Vernom, do Bon Iver e o aclamado Rick Rubin, que também é o responsável pela produção do último álbum do Black Sabbath. Rubin teria sido parte essencial para que o disco tomasse as características de concisão e minimalismo. Esse conceito sustenta-se também na escolha da capa, ou melhor, na ausência dela. Se um dos papéis da capa é o de traduzir visualmente e entregar de forma mastigada o conceito por trás do trabalho, então é provável que West deseje que o próprio público se aventure a desvendar essas noções ao invés de estabelece-las de forma pré-concebida.
Mais do que um álbum para os fãs de rap e hip hop, Yeezus é uma daquelas obras que todos deveríamos ser obrigados a escutar, pois veremos futuramente uma série de ramificações dela.
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