Diz a história, que, quando ficou viúva, Noêmia Monteiro Villa-Lobos começou a lavar toalhas e guardanapos para restaurantes. O filho, Heitor, fazia as entregas, principalmente na Confeitaria Colombo, um ponto de encontro da cidade. Lá, o rapaz conheceu os músicos que tocavam ali, entrou para o grupo, e a confeitaria serviu como palco para a sua profissionalização. A Colombo foi também inspiração para o professor do departamento de História da PUC-Rio Antônio Edmilson, que escreveu com o chef Renato Freire o livro Confeitaria Colombo – Sabores de uma cidade.
Fundada na Rua Gonçalves Dias, no Centro do Rio, em 1894 pelos portugueses Joaquim Borges de Meirelles e Manoel José Lebrão, a Colombo, símbolo da belle époque carioca, era um local onde se reuniam artistas, intelectuais e políticos - Olavo Billac tinha uma mesa fixa lá. Mas, 119 anos depois, o público da confeitaria é mais eclético.
– Ela sempre manteve o balcão virado para rua, para as camadas populares. A classe média ocupava o salão, então ela nunca foi exclusivamente das elites cariocas. Claro que eram elas que davam o toque à Confeitaria, principalmente a elite literária – diz Antônio Edmilson.
Fruto de dois anos de pesquisa, a obra faz parte de um projeto que pretende contar a história dos bares tradicionais e das confeitarias do Rio de Janeiro. Para compor o livro, Edmilson e equipe resolveram transformar a Confeitaria e a cidade em personagens.
– O que nós fizemos foi tomar a Colombo como referência e juntá-la à cidade. Nesse sentido, o livro tem como referência não só os personagens, mas os vários momentos de desenvolvimento da confeitaria – explica.
A Colombo era uma casa de um andar que cresceu até ao que é hoje. Quando passou por uma grande reforma em 1912, a estrutura atual foi definida.
Na década de 1940, uma filial foi aberta em Copacabana, bairro da moda na cidade. Com o esvaziamento do Centro na década de 1960, a confeitaria na Zona Sul passou a ser a mais visitada. Ela funcionou até 2003, na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua Barão de Ipanema, quando foi transferida para o Forte de Copacabana.
Ainda nos anos 1960, afetada por uma crise, a confeitaria foi vendida para uma marca interessada na geléia de mocotó, que era um dos destaques do cardápio. Mas anos depois, uma família comprou a Colombo e retomou a tradição do lugar.
– Os novos donos investiram muito. Tentaram recuperar tudo o que foi vendido pelos antigos proprietários na época da crise, como pratos, louças antigas e vasos. Eles recuperaram várias peças, restauraram a parte ruim dela e ficaram no Centro – conta Edmilson.
Um fato curioso é que os garçons não podiam receber gorjetas, para que não competissem e fizessem um bom serviço. Por outro lado, parte do lucro era dividido com os empregados no fim do ano. Lebrão criou um ditado, usado até hoje, que mostrava a preocupação com a qualidade da confeitaria: “O cliente tem sempre razão”.
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