“Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da
leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de
terceiros, não quer que interpretem, que cante, que dancem um poema. O
verdadeiro amador de poemas ama em silêncio.”
O silêncio, de
Mario Quintana
Peço desculpas ao poeta das
coisas simples, Mario Quintana. Obras literárias me envolvem de uma maneira tão
intensa que me transborda e preciso dizer, ou digitar, ao mundo o que trazem
para mim. Parece afronta começar com esse trecho quando pretendo falar sobre
literatura e trazer pequenos fragmentos da vasta obra de Quintana. Peço licença
para divagar um pouco pelos versos que colocam em linguagem simples o que é,
afinal, ser leitor.
“Os poemas são pássaros que chegam
Não se sabem de onde e pousam
No livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
Como de um alçapão.
Eles não têm pouso
Nem porto
Alimentam-se um instante em cada par de mãos
E partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
No maravilhoso espanto de saberes
Que o alimento deles já estava em ti...”
Os poemas, de
Mario Quintana.
No Dia Mundial do Livro é difícil
não pensar sobre nós, leitores. Durante anos vamos acumulando saberes e lições
que levamos para o resto da vida. Não importa qual o tipo de literatura ou o
estilo de escrita, quem dá chance aos livros se pega, de repente, cativado. Há
rumores de que depois de um tempo vira um vício. A gente acaba comprando muito
mais livros do que consegue ler. E isso não incomoda. Pelo contrário. A prateleira
lotada traz conforto e parece que sempre tem como dar um jeito de colocar mais
alguma obra ali. Mesmo que seja um pocket.
“A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o
leitor entende uma terceira e, enquanto se passa tudo isso, a coisa
propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.”
A Coisa, de Mario Quintana
Mas, afinal, por que a
literatura cativa tanto? Talvez nos percamos em meio a figuras de linguagens e,
na verdade, acaba que nos encontramos. Nas páginas da história de um outro
alguém é possível se descobrir. Sentimentos vêm à tona ao passarmos os olhos
atentos sobre as palavras. Medo, alegria, angústia, compaixão, raiva, ternura.
Tudo se mistura em um mar de letras e acaba sendo entendido pelo leitor. Nós,
que achamos um sentido ou que inventamos um.
“Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!”
Eu escrevi um poema
triste, de Mario Quintana
Histórias atemporais que descobrimos ontem. Autores que
parecem entender os sonhos e temores com uma facilidade tamanha que nem o
terapeuta, ou nossa própria mãe (!), consegue decifrar. Ah, os momentos em que
parece que os personagens tomam vida e nos fazem sentir emoções tão fortes que
é preciso fechar um pouco o livro e respirar fundo. Aquela boa história em que
a gente lê 400 páginas em 2 dias, mas as últimas 5... É preciso quase uma
semana para criar coragem de fechar o livro de vez. (Se ainda não te aconteceu
isso, continue lendo. Daqui a pouco você acha o livro.)
Como disse Mario Quintana, em um Cartaz para uma
feira do livro, “os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não
leem”. Quem não gosta de ler é porque ainda não achou o estilo literário que
melhor lhe convém. Quando o leitor acha uma obra que o cative, é impossível não
se impressionar. É fácil notar quando esse encantamento acontece, explicou
Quintana: “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão / de que está
lendo a gente … e não a gente a ele!”. Mas é preciso ter Cuidado, “A
poesia não se entrega a quem a define.”.
Para
comemorar o Dia Mundial do Livro, qual será sua próxima leitura?
Quer
uma indicação? Então dá uma olhada nas nossas resenhas no Quem conta um conto.
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