Mesmo quando o cinema parece ter explorado todos os
sentimentos que é possível um ser-humano ter, aparece um incrível roteiro que
reinventa a fórmula de temas tão recorrentes. A receita de Tomates Verdes Fritos trouxe
elementos novos que deixaram a narrativa com um gosto diferente do que vemos
por aí. Falar de amizade e cumplicidade não é tarefa fácil. O longa de 1991
aborda por diferentes ângulos o que é, afinal, a amizade e o que se conquista
por meio de amor e respeito.
Em um primeiro momento a narrativa pode não parecer
diferente de tantas outras. Unidas pela perda do encantador Buddy Threadgoode, a pequena
irmã Idge Threadgoode (Mary Stuart Masterson) e a jovem Ruth Jamison (Mary-Louise Parker) põem de lado suas diferenças e se permitem conhecer a
outra, abandonando temores e preconceitos. A lembrança de Buddy vivo, minutos antes
de ser atropelado pelo trem da linha férrea que cortava a pequena cidade, traz
o primeiro momento de cumplicidade das duas meninas. A ausência dói nas duas.
De maneiras diferentes, claro, mas, ainda sim, é um elemento em comum. A dor da
perda é a chave que permite que uma entre no mundo da outra.
Idge é a típica menina com o comportamento travesso de
menino. Com roupas masculinizadas e uma personalidade fortíssima e explosiva -
fato raro nos Estados Unidos da década 30 -, ela cresce isolada. Tendo aprendido
a sobreviver praticamente sem ajuda, Idge contrasta com a personalidade
complacente e meiga de Ruth. Acostumada a seguir dogmas sociais, Ruth vê uma
nova vida ao lado de Idge.
A
vida de Evelyn Couch (Kath Bates) se entrelaça com a história de Ruth e Idge por meio de
Ninny Threadgoode (Jessica Tandy). Evelyn é uma dona de casa que está passando por uma crise no casamento,
o que a desestabiliza emocionalmente. O vício em comer doces é a válvula de
escape para aguentar o sentimento de invisibilidade ao lado do marido Ed. Com
mais interesse em assistir aos esportes do que dar atenção à esposa, Ed pouco
nota o esforço de Evelyn para tentar salvar a relação dos dois.
Todas
as vezes que Ed visita uma tia internada no hospital, Evelyn é obrigada a
esperar do lado de fora do quarto por não ser bem recebida. Enquanto Evelyn
estava sentada sozinha no corredor, Ninny a encontra. A história, guardada por
anos, começa a ser contada. Em cada dia de visita um novo fragmento é revelado.
Os encontros entre as duas torna-se um compromisso. Aos poucos é criada a
relação de cumplicidade que transforma ambas, assim como na história em que é
contada.
O
filme introduz no roteiro questionamentos sociais e históricos com sutileza ao
mesmo tempo em que critica de maneira clara. Na história de Ruth e Idge é mostrado
o papel que da mulher na sociedade dos anos 30 (submissão, casamento arranjado)
e a relação entre os brancos e os negros no sul dos Estados Unidos (a Ku Klux
Klan, a segração, a desigualdade perante a lei). Já nos tempos de Evelyn e
Ninny, mostra a ainda difícil tarefa de a mulher conseguir impor desejos
próprios e a insegurança durante o envelhecimento.
Por
curiosidade, o nome Tomates
Verdes Fritos é uma
referência ao prato servido no café que Ruth e Idge abriram. Nele, Ninny comia
o aperitivo. Em uma de suas visitas, Evelyn leva os tomates para a nova amiga,
o que a remete aos tempos de infância, época em que tudo ocorreu.
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