sexta-feira, 5 de abril de 2013

Na Tela - O festival que cantou por liberdade

É tempo de popularização de festivais de música ao redor do mundo em que edições ultrapassam os limites das fronteiras e chegam a outros países (como o Lollapalooza que teve sua estreia em território brasileiro ano passado e acaba de ter realizada a segunda edição no último fim de semana). Ao falar de festival é impossível não remeter à memória, mesmo que por meio de registros, sobre o que foi o Woodstock. Realizado em agosto de 1969, o maior evento de música da história teve peculiaridades incríveis - não tem como definir de outro modo a não ser assim. Organizado na fazenda de Max Yasgur, na cidade rural de Bethel, Nova Iorque, Woodstock foi anunciado como "Uma explosão aquariana: 3 dias de paz & música". A estimativa de público passou longe. Enquanto esperavam que por volta de 50 mil pessoas, o público chegou a marca de 450 mil. Desde as apresentações, até a logística e a receptividade dos moradores da pacata cidade foram registradas e contadas no filme "Woodstock: três dias de paz e música" (1970), do diretor Michael Wadleigh.

O ponto que mais chama a atenção ao comparar Woodstock com qualquer festival atual é a ideologia por trás da geração que fez o evento acontecer. Programado para um público de 50 mil pessoas ao dia, tudo parecia fugir do controle quando mais e mais jovens chegavam ao local, abandonando os carros pelo caminho - congestionando a única estrada de acesso - e pulando a cerca para entrar no sítio. Não tem como não ficar surpreso com a reação tranquila dos organizadores. Aos olhos de quem assiste ao filme, era tudo uma sucessão de erros que não acabaria bem. Os responsáveis pelo Woodstock sorriam e falavam calmamente que a margem de lucro já tinha passado há tempos pelo negativo, mas que nada disso importava, o que tinha seu valor era a música. Sem titubear, é perceptível que a paixão pela música e a ideologia da contracultura eram os verdadeiros motivos para tantas pessoas estarem ali. Todos com o objetivo de encontrar a harmonia e a conectividade com por meio da música. Um único motivo que fez com que tudo desse certo. É inimaginável!



O volume de acontecimentos nos dias 15, 16 e 17 de agosto de 1969 era tanto que a tela, durante bom tempo do longa, fica dividida em duas partes. Duas imagens que raramente têm ligação, que se completam - na verdade, se contrapõem com mais frequência - mostram de maneira clara o que aconteceu. O discurso de liberade aparece com frequência. A quebra de paradigmas e a ruptura com padrões tão sólidos que parecem naturais são constantemente reafirmadas. É surpreendente perceber que em um espaço sem leis não há, necessariamente, o egoísmo. Os moradores da pequena cidade rural ajudaram os jovens fazendo doação de água e comida, assim como médicos voluntários prestavam atendimento aos que passavam mal pela maratona ou por excesso no uso de drogas. Sem que houvesse brigas, confusão ou outro tipo de caos generalizado, o evento teve um percursor exemplar muito melhor do que tantos outros minimamente calculados.


A estética do filme faz com que o expectador se sinta em Woodstock, bem no meio de sua lama, tomando banho de chuva ou no rio. A câmera na mão, o discurso direto e o carisma dos entrevistados traz a proximidade com o outro proposta pelo evento. Todos parecem acolhedores. Os gestos calmos, as demonstrações de carinho, o viver em comunidade de sua melhor forma. Eram jovens que tentavam escapar de uma realidade brutal do período de um tempo tenebroso em que o perigo era próximo mesmo com o Viatnã e sua guerra tão distantes.



Como não podia faltar, nas quase 4 horas de filme - o material realmente vale todo esse tempo - tem fragmentos de grandes apresentações. O longa traz um setlist invejável já que conta, por si só, com verdadeiras estrelas e eternos clássicos. Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Who, Santana, Joe Cocker e Crosby, Stills & Nash, entre outros mais. As imagens dos shows em alguns momentos são sobrepostas com as imagens do público, o que passa muito bem o conceito de integração.

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