terça-feira, 2 de abril de 2013

Quem conta um conto - Nós, os monstros

É certo que um dos momentos mais difíceis na vida de qualquer um é quando nos damos conta de que estamos crescendo. Sair da infância, passar pela adolescência (e seu temores que parecem sem fim), até chegar na fase adulta para, ainda, continuar crescendo por meio de aprendizagens e lições que a vida insiste em colocar no caminho não é tarefa fácil.

Lançado em 1963, Onde vivem os monstros (Where the wild things are), do escritor e ilustrador americano Maurice Sendak traz a temática do imaginário infantil. Max, um menino levado, veste sua fantasia de lobo e começa a fazer bagunça pela casa. Depois de correr pelos cômodos e atormentar o cachorro da família, ele é mandado para o quarto por conta de seu mau comportamento. Bem, seria mesmo um comportamento inadequado ou só uma criança sendo... criança?

É no ambiente calmo e solitário do quarto que Max começa a imaginar uma terra distante, que consegue alcançar depois de navegar em seu barco. Com criaturas estranhas, de dentes afiados e olhos assustadores, Max impõe seu jeito de ser. Embora seja o novato na ilha habitada pelos monstros grandalhões, o menino se torna o rei. É ele quem dá nova vida ao local.


Mesmo parecendo feliz, Max resolve voltar para casa. O menino sente o cheirinho da sopa que foi deixada em cima da mesa quando ele foi mandado pela mãe a ir cumprir o castigo. Embora nomeado de maneira rápida e sem oposição como o rei da ilha, Max percebe que o poder não deu o sentimento de pertencimento.

Quando Max corre em direção ao barco para poder voltar para casa, as criaturas gritam em une som "I'll eat you up!" (Eu vou te devorar!). A mesma frase tinha sido dita pelo menino para a mãe, o que o levou ao castigo. É por meio da criatividade e imaginação que Max conseguiu compreender o peso de sua ação.  O menino poderia construir uma história com qualquer elemento, mas, na verdade, reconstrói com algumas modificações o momento em que discutiu com a mãe. Ele pode se ver no papel inverso. Na realidade fora da ilha, era ele o monstro.

Quando ele retorna ao quarto, depois da viagem de volta, a sopa o espera na mesa. O castigo era um aprendizado e não uma punição, o que não parecia claro, pelo menos não a primeira vista. É recorrente sentirmo-nos injustiçados, erroneamente obrigados a cumprir algo. Só aos poucos, depois de refletir, nos damos conta de que nem era tão grave como parecia. Talvez estivéssemos mesmo errados. É um custo admitir. É difícil perceber.



Onde vivem os monstros chegou aos cinemas em 2010 e acrescentou a narrativa temas como amizade, companheirismo, egoísmo e cumplicidade. O longa merece ser assistido, assim como o breve livro infanto-juvenil merece ser lido.


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