Um escritor ganhador do Prêmio Nobel de Literatura descobre que tem um raro câncer nas cartilagens e que tem poucos meses de vida. Vivendo isolado por anos, ele resolve conceder suas primeiras entrevistas para cinco jornalistas pré-selecionados antes de morrer. Esse é o ponto de partida de Higiene do Assassino (Editora Record - 1998)), livro de estreia da escritora belga Amélie Nothomb.
Autor de 22 livros, Pretextat Tach é um escritor de 83 anos, que vive sozinho em sua cadeira de rodas e passa o dia comendo e engordando. Os únicos contatos que tem com o mundo externo são a enfermeira, que dá banho nele, e o agente, que foi responsável por selecionar os jornalistas para que não desagradassem o rabugento escritor.
O livro se passa em 1991, durante a guerra do Golfo, e é estruturado em forma de diálogos. Nothomb faz um ótimo trabalho, com um texto irônico e ácido, que transforma cada entrevista em uma pequena guerra entre Tach e os jornalistas. Nas quatro primeiras batalhas, quem ganha é o escritor. Os quatro jornalistas que entrevistaram ele primeiro se mostram despreparados, sem conhecer a obra do escritor e acabam enxotados do apartamento dele antes mesmo da entrevista terminar.
Mas a última entrevista é que surpreende o escritor. Primeiro por se tratar de uma jornalista, o que já deixa Tach com um pé atrás, já que ele diz odiar as mulheres. Porém, a profissional se mostra totalmente bem informada, tendo lido todos os livros dele e pesquisando o passado obscuro do escritor. É nesse ponto que a história tem sua reviravolta e, o que seria apenas uma entrevista, se transforma na grande batalha final. A jornalista faz com que Tach volte a ter contato com sua infância e provoca nele uma fusão de sentimentos como amor e medo, gerando epifanias.
Higiene do Assino tem uma leitura fácil e agradável, apesar do texto corrosivo e provocador de Nothomb. É como se as páginas se virassem por conta própria e o leitor fosse o terceiro elemento de cada entrevista.
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