Foto: Cadu Cavalcanti |
Há 11 anos quando ouvi “Máscara” pela primeira vez, achei a
música meio estranha e cheguei a pensar que aquela seria mais uma dessas
cantoras de um hit só. Um mês depois, uma amiga me emprestou o Admirável Chip
Novo (2003) e então passei a conhecer o trabalho de Pitty e a me identificar
com suas letras, suas melodias e arranjos. Daí por diante eu vi que estava
enganado, e que a trajetória da cantora seria de muito sucesso.
E ela provou isso na sexta-feira (15), quando lançou seu
SETEVIDAS (2014) em um Circo Voador lotado de fãs, em sua maioria, jovens de 20
e poucos anos que, assim como eu, cresceram ouvindo sua música e acompanharam
sua trajetória. E aquela seria uma noite memorável, a avaliar pelo tamanho da
fila que tomou o largo da Lapa, no Rio de Janeiro.
Com o repertório dividido entre o disco novo quase completo –
apenas “Lado de Lá” ficou de fora – e antigos sucessos, a baiana começou a
noite com o single que dá nome ao novo trabalho. O refrão fácil e extremamente
divulgado nas rádios, na TV e até na novela das 19h, convidou o público a
cantar em uma só voz que se confundia com a de Pitty. Ao fim da canção, a líder
da banda que leva seu nome perguntou: “Quantas vidas vocês têm ainda?”.
O público, incansável, parecia ter muito mais vidas que um
gato. Sem perder o fôlego, todos cantaram juntos as já carimbadas “Anacrônico”,
“Admirável Chip Novo” e “Semana Que Vem”. Antes de começar “A Massa”, Pitty
saudou o público e falou do prazer de tocar no Circo. Quem já assistiu a um
show da cantora no local sabe a aura especial que a lona tem. É como se ela
fosse dona daquele palco, daquela arena.
“Deixa Ela Entrar”, mais uma da nova leva, mostrou como
Pitty consegue conduzir sua plateia mesmo com uma canção nova. Em seguida, veio
a “música zumbi”, como a própria se referiu a “Teto de Vidro”, faixa que estava
fora dos shows há sete anos. O público respondeu com euforia, cantando todas as
sílabas como se aquela fosse a última vez que a música seria tocada.
O fogo se alastrou quando o baixo de Guilherme Almeida deu
início a “Memórias”. Uma roda punk se abriu no picadeiro e os fãs pareciam ter
voltado à adolescência. Uma catarse múltipla, que acelerou o coração de cada
pessoa embaixo daquela cobertura. Embora tenha o ritmo roqueiro e acelerado, “Boca
Aberta” amenizou os ânimos, mas foi cantada pelos fãs que estão por dentro das
novas músicas. Já em “Olho Calmo”, uma das melhores do novo disco, algumas pessoas
se dispersaram, embora os fãs continuassem cantando com os olhos vidrados no
palco.
E então veio “Pouco”, com o mesmo efeito de “Boca Aberta”,
mas que preparou bem o campo para a chegada de “Me Adora”. Aí a galera se
deliciou, dançando no clima pop e sessentista da canção e pulando e cantando o
refrão mais chiclete da carreira de Pitty. A já batida – mas sempre relevante –
“Pulsos” também fez a galera pular e lembrou a euforia do show de lançamento do
{Des}Concerto Ao Vivo (2007) naquele mesmo lugar.
Aí veio a parte “romântica” do show com a sensual e pesada “Pequena
Morte”, com seu ritmo quebrado e baixo sujo como dos Queens of the Stone Age. E
quando Martin tocou os primeiros acordes de “Equalize”, o público vibrou e
cantou junto, até que Pitty deixou o último refrão só para a galera, enquanto a
banda fazia uma levada reggae para acompanhar.
Enquanto Pitty e os roadies faziam ajustes no palco, Duda
fazia uma leve batida na bateria e os fãs logo começaram a cantar “Na Sua
Estante”. A cantora se mostrou surpresa e ficou observando emocionada, até que
fez uma citação a “Venus in Furs”, do Velvet Underground, antes da música
começar de fato.
A reta final começou com a incrível “Um Leão”, que teve um
solo de instrumentos de percussão tocado por Pitty, Guilherme, Martin e Paulo
Kishimoto, que acompanha a banda na turnê. Em seguida veio “Máscara”, que
trouxe de volta a rebeldia adolescente do primeiro disco e, provavelmente, fez
a mente de muita gente viajar no tempo. Com uma levada trip hop meio Massive
Attack, Pitty fez uma citação que parecia “My Friend”, do Groove Armada, mas
que ficou inaudível tamanha animação do público, antes de entoar o “I had
enough of it, but I don’t care”. E a canção terminou com a pegada punk já
conhecida sugando as últimas energias do público.
“Serpente” encerrou a noite dando a prova de que Pitty está
cada vez melhor, embora muita gente ainda veja seu trabalho como “música para
adolescentes revoltados”. A transformação, a evolução explicitada na letra da
canção, deixa claro que o caminho nem sempre é fácil, mas que as mudanças
sempre são bem vindas e necessárias. E se há quatro anos, seu show terminava
frenético e eufórico com “Máscara”, agora é hora de trocar, e deixar a reflexão e a serenidade tomarem conta do espaço em um fim glorioso.
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