segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Ao Vivo - Dona do palco (parte II)

Foto: Cadu Cavalcanti
Há 11 anos quando ouvi “Máscara” pela primeira vez, achei a música meio estranha e cheguei a pensar que aquela seria mais uma dessas cantoras de um hit só. Um mês depois, uma amiga me emprestou o Admirável Chip Novo (2003) e então passei a conhecer o trabalho de Pitty e a me identificar com suas letras, suas melodias e arranjos. Daí por diante eu vi que estava enganado, e que a trajetória da cantora seria de muito sucesso.

E ela provou isso na sexta-feira (15), quando lançou seu SETEVIDAS (2014) em um Circo Voador lotado de fãs, em sua maioria, jovens de 20 e poucos anos que, assim como eu, cresceram ouvindo sua música e acompanharam sua trajetória. E aquela seria uma noite memorável, a avaliar pelo tamanho da fila que tomou o largo da Lapa, no Rio de Janeiro.

Com o repertório dividido entre o disco novo quase completo – apenas “Lado de Lá” ficou de fora – e antigos sucessos, a baiana começou a noite com o single que dá nome ao novo trabalho. O refrão fácil e extremamente divulgado nas rádios, na TV e até na novela das 19h, convidou o público a cantar em uma só voz que se confundia com a de Pitty. Ao fim da canção, a líder da banda que leva seu nome perguntou: “Quantas vidas vocês têm ainda?”.

O público, incansável, parecia ter muito mais vidas que um gato. Sem perder o fôlego, todos cantaram juntos as já carimbadas “Anacrônico”, “Admirável Chip Novo” e “Semana Que Vem”. Antes de começar “A Massa”, Pitty saudou o público e falou do prazer de tocar no Circo. Quem já assistiu a um show da cantora no local sabe a aura especial que a lona tem. É como se ela fosse dona daquele palco, daquela arena.

“Deixa Ela Entrar”, mais uma da nova leva, mostrou como Pitty consegue conduzir sua plateia mesmo com uma canção nova. Em seguida, veio a “música zumbi”, como a própria se referiu a “Teto de Vidro”, faixa que estava fora dos shows há sete anos. O público respondeu com euforia, cantando todas as sílabas como se aquela fosse a última vez que a música seria tocada.

O fogo se alastrou quando o baixo de Guilherme Almeida deu início a “Memórias”. Uma roda punk se abriu no picadeiro e os fãs pareciam ter voltado à adolescência. Uma catarse múltipla, que acelerou o coração de cada pessoa embaixo daquela cobertura. Embora tenha o ritmo roqueiro e acelerado, “Boca Aberta” amenizou os ânimos, mas foi cantada pelos fãs que estão por dentro das novas músicas. Já em “Olho Calmo”, uma das melhores do novo disco, algumas pessoas se dispersaram, embora os fãs continuassem cantando com os olhos vidrados no palco.

E então veio “Pouco”, com o mesmo efeito de “Boca Aberta”, mas que preparou bem o campo para a chegada de “Me Adora”. Aí a galera se deliciou, dançando no clima pop e sessentista da canção e pulando e cantando o refrão mais chiclete da carreira de Pitty. A já batida – mas sempre relevante – “Pulsos” também fez a galera pular e lembrou a euforia do show de lançamento do {Des}Concerto Ao Vivo (2007) naquele mesmo lugar.

Aí veio a parte “romântica” do show com a sensual e pesada “Pequena Morte”, com seu ritmo quebrado e baixo sujo como dos Queens of the Stone Age. E quando Martin tocou os primeiros acordes de “Equalize”, o público vibrou e cantou junto, até que Pitty deixou o último refrão só para a galera, enquanto a banda fazia uma levada reggae para acompanhar.

Enquanto Pitty e os roadies faziam ajustes no palco, Duda fazia uma leve batida na bateria e os fãs logo começaram a cantar “Na Sua Estante”. A cantora se mostrou surpresa e ficou observando emocionada, até que fez uma citação a “Venus in Furs”, do Velvet Underground, antes da música começar de fato.

A reta final começou com a incrível “Um Leão”, que teve um solo de instrumentos de percussão tocado por Pitty, Guilherme, Martin e Paulo Kishimoto, que acompanha a banda na turnê. Em seguida veio “Máscara”, que trouxe de volta a rebeldia adolescente do primeiro disco e, provavelmente, fez a mente de muita gente viajar no tempo. Com uma levada trip hop meio Massive Attack, Pitty fez uma citação que parecia “My Friend”, do Groove Armada, mas que ficou inaudível tamanha animação do público, antes de entoar o “I had enough of it, but I don’t care”. E a canção terminou com a pegada punk já conhecida sugando as últimas energias do público.

“Serpente” encerrou a noite dando a prova de que Pitty está cada vez melhor, embora muita gente ainda veja seu trabalho como “música para adolescentes revoltados”. A transformação, a evolução explicitada na letra da canção, deixa claro que o caminho nem sempre é fácil, mas que as mudanças sempre são bem vindas e necessárias. E se há quatro anos, seu show terminava frenético e eufórico com “Máscara”, agora é hora de trocar, e deixar a reflexão e a serenidade tomarem conta do espaço em um fim glorioso.

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