terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Quem conta um conto - “É mentira, mas é tudo verdade”


“Qualquer semelhança com a realidade não terá sido mera coincidência. Dúvidas, consulte um advogado.”. Esse é o trecho final da nota que encerra Máquina de Pinball escrito por Clarah Averbuck. A obra, que tem a proposta de trazer relatos pessoais, tem o tom sarcástico, típico da escritora. 

Conhecida na internet por seus blogs pessoais brasileira!preta e adeus lounge, a escritora põe na obra o jeito da escrita na blogosfera. Com frases curtas, relatos pela metade, pensamentos despejados no colo do leitor sem melodrama e desculpas, Clarah mistura muitas de suas boas histórias de vida com uma pitada de ficção sem que o texto beire ao ridículo.

Com pinceladas de sarcasmo e sem meias-verdades, Clarah construiu uma obra que pode dar inveja às pessoas que gostariam de sair do marasmo ao romper com padrões. A falta de dinheiro é o menor dos problemas. Quem precisa comer direito quando é possível conseguir bebidas de graça nos bares e colocar bem alto o som do rock (de preferência dos Strokes) para abafar o som do ronco do estômago?

“Então, para os fodidos, rock e miojo. Mas miojo light, porque não quero virar uma pêra. Já basta ser pobre, se também inventar de ficar gorda vai ser foda.”

A protagonista Camila é definida como uma “mulher com bolas”. Com vaidades do universo feminino – “maquiagem, salto agulha, piercing no umbigo e esmalte com glitter” –, a personagem se diverge ferozmente da típica mocinha de tantas obras literárias. Camila tem atitudes diferentes. Nada de desculpas ou delicadezas. A conquista dos homens ‘one-night stand’ é a base da maioria dos capítulos, além da frustração com a carreira de escritora.

Livro Máquina de Pinball
Citações de músicas, artistas internacionais do rock e conceituados escritores literários ajudam a compor a obra. São esses trechos que aproximam a protagonista do universo dos jovens que hoje encontram na internet, com a explosão de influências culturais, a melhor maneira de se expressar.

O livro não traz muitos diálogos de Camila os personagens que somem tão rápido como apareceram. O único apego real da protagonista parece ser o gato Julian, adotado quando ela mal tinha chegado à cidade. A rapidez com que elementos e pessoas entram e saem na vida de Camila segue o mesmo ritmo de narração dos capítulos. Frases curtas e palavras em sequência dão ao texto a sensação de que o leitor na verdade escuta a protagonista contar os relatos. A mistura de assuntos contados em partes que se contrapõem e se entrecruzarem dão o tom de uma conversa muito acelerada, típico das pessoas que têm muito o quê falarem e não conseguem conter o silêncio.



Clarah é de Porto Alegre e se mudou para São Paulo em 2001, quando começou a escrever o livro. Sozinha, longe do conforto e proteção dos pais, foi na poluída e movimentada cidade, que a escritora viveu grande parte do que é relatado na obra. Antes de publicar Máquina de Pinball, Clarah postava no brasileira!preta, seguindo a mesma linha de escrita do impresso.

Máquina de Pinball é a obra de estreia de Clarah Averbuck e foi lançada em 2002, pela Editora Conrad. O livro inspirou a obra cinematográfica Nome Próprio (2007), do diretor Murilo Salles, que traz a atriz Leandra Leal na pele da protagonista Camila. Antes, Máquina de Pinball, ganhou adaptação para o teatro, em 2003, sendo roteirizado por Antônio Abujamra – autor do prefácio – e Alan Castelo.

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