Uma característica da música do Ludov é a evolução sonora
que a banda apresenta de um trabalho para o outro. Melodias mais harmônicas,
repletas de sutilezas, letras bonitas, bem pensadas, que resultam em canções
marcantes e acolhedoras. Tal característica está presente no novo trabalho do
grupo.
Miragem (2014) começou com um projeto de crowndfunding, no
qual os fãs puderam ajudar a financiar o lançamento do álbum em vinil. Isso
provavelmente influenciou na escolha da ordem das canções e do número de
faixas, cinco de cada lado, o que mostra o cuidado da banda para apresentar um
trabalho de qualidade e com carinho.
O disco já chama atenção pela bela capa feita pelo
quadrinista Gabriel Bá. Ao tocar o disco, o ouvinte se depara com a delicadeza
e a calma dos arranjos gravados no disco. “Copo de Mar” começa intimista e logo
após a segunda estrofe ganha corpo e somos convidados a embarcar no veleiro da
banda e viajar nas imagens propostas pela música, um dos destaques do álbum.
“Na Fila do B52’s” fala sobre um desencontro e aponta
algumas canções da banda citada no título. Já “Cidade Natal”, traz um arranjo
doce e envolvente para falar sobre lembranças, distância e a relação com o
passado. Uma das melhores do disco que mostra, tanto na letra, quanto na
melodia, o real amadurecimento do grupo.
Com uma pegada mais urbana, “Congelar” nos leva ao cenário
de uma cidade grande e fria. O lado A fecha com a ótima “Quem Cuida da Casa”,
que tem uma melodia mais pop e a letra com apenas quatro frases. Após a
primeira audição, o impulso de cantarolar o final e acompanhar as palmas é
praticamente incontrolável.
Um riff de guitarra dá partida a “De Cima do Muro”, primeira
faixa do lado B, que é mais roqueira e tem um ritmo que aumenta a ansiedade
exposta na letra. “Reparação” traz a vocalista Vanessa Krongold cantando em um
tom diferente, mais agudo, falando sobre doação, troca e provocações em uma
relação a dois.
O olhar, a paisagem, a memória. “Perspectiva” propõe novas
visões de ângulos diferentes. Seu arranjo retoma a serenidade do lado A, embora
seja mais melancólica que as anteriores. “Sétima Arte” fala sobre liberdade e
experimentações em um clima que lembra a sonoridade de Disco Paralelo (Mondo 77
– 2007) e também o trabalho de Los Hermanos.
“O Fim da Paisagem” encerra o trabalho com um arranjo mais
viajante e confortável, mesmo com os ruídos que tiram o ouvinte do lugar comum.
Uma ótima forma de terminar um trabalho ameno, mas intenso, que traz o melhor
da composição do Ludov.
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