domingo, 13 de abril de 2014

Ao vivo - Apostando na mudança

Quando foi anunciada a mudança do Lollapalooza Brasil do Jockey Club de São Paulo para o Autódromo de Interlagos, houve uma resistência dos fãs do festival. Anunciado o line-up e iniciada a venda de ingressos, ainda teve gente dividida, reclamando do local, mas empolgada com as atrações. Reflexo disso foram os bilhetes que só esgotaram no primeiro dia de festival.

No final das contas, a terceira edição brasileira do Lollapalooza reuniu cerca de 150 mil pessoas. O espaço incrível teve cinco palcos, com distâncias enormes entre eles - bom para o som, péssimo para quem quer assistir shows em palcos diferentes -, atrações de primeira e acesso razoavelmente tranquilo. Quem optou pelo trem no sábado, enfrentou uma longa fila no portão de acesso mais próximo por volta das 13h30. Já quem esperou o show do Muse acabar, teve que ficar aglomerado na porta da estação para conseguir pegar o trem. Sufoco. Já no domingo o movimento foi mais tranquilo.

Outro problema foi a falta de lixeiras dentro do autódromo. Na falta de opção, muitas pessoas jogaram lixo no chão, o que no fim do dia deixou os espaços em frente aos palcos lotados de copos vazios. Outro problema foi o som do camarote da Skol vazando no palco da marca, o principal do evento, o que causou uma sensação de delay. Em compensação, houve pouca fila para comprar fichas, pegar comida, bebida e usar os banheiros. Ponto para o festival.

Shows
Uma das melhores apresentações do festival foi do Cage The Elephant. Eles subiram ao palco no sábado à tarde, e uma multidão já se reunia para assistir ao show enérgico que eles fizeram. "Spiderhead", "In One Ear" e "Aberdeen" já tiraram o fôlego do público logo no início do show. Matt Schultz se entregou em todas as músicas, pulou na plateia, e declarou seu amor ao Brasil diversas vezes. Cenário semelhante ao da apresentação do primeiro Lollapalooza no Jockey, em 2012, quando a banda também se apresentou. Desta vez, os momentos catárticos ficaram por conta de "Cigarette Daydreams", "Come a Little Closer" e "Shake Me Down".


No mesmo horário que a neozelandesa Lorde se apresentava no palco Interlagos, os franceses do Phoenix transformavam o palco Skol em uma pista de dança. Com sucessos como "Lasso", "Trying To Be Cool", "1901" e "Lisztomania", a banda fez um show impecável, com vídeos e iluminação que fizeram um espetáculo para o público. Quem deixou de ver a Lorde para acompanhar o show dos meninos, provavelmente não se arrependeu.

A decepção ficou por conta do Muse. Matthew Bellamy cancelou o show que a banda faria na quinta-feira antes do festival devido a uma laringite. No sábado, apesar dos esforços do trio, a apresentação acabou sendo morna, sem o potencial que a banda costuma mostrar em seus shows. Eles tentaram compensar com o setlist, que trouxe faixas que não eram tocadas há um tempo como "Butterflies & Hurricane", "Bliss" e "New Born", que abriu o show. Também teve espaço para homenagem a Kurt Cobain, que morreu no dia 5 de abril de 1994, 20 anos antes. O público se mostrou empolgado, ao contrário de Matt, que tentava transparecer empolgação, mas estava com aparência de cansado. Apesar disso, Dominic e Chris empregaram toda a energia em "Stockholme Syndrome", "Hysteria" e "Liquid State", única faixa cantada do início ao fim no show. Após a apresentação, Matthew usou o twitter para se desculpar com o público e agradecer ao apoio dos fãs, e disse que em 2015 a banda volta ao Brasil e vai tocar "Muscle Museum", uma das faixas mais pedidas pelos musers. Vamos esperar.

As meninas do Savages fizeram uma das apresentações mais interessantes do domingo, e uma das melhores do festival. Com bastante pegada, as meninas emendaram um set com quase todas as faixas da estreia Silence Yourself e uma inédita, "Fuckers". A recepção foi boa e os poucos fãs que ali estavam cantaram junto os refrões de "I Am Here", "She Will" e "Husbands".


Já os Pixies se baseou nos sucessos que consagraram a banda na virada dos anos 80 para os 90 e em algumas faixas do recém-lançado Indy Cindy. "Here Comes Your Man", "Where is My Mind?" e "Gouge Away" foram bém recebidas pela plateia, enquando "Blue Eyed Hexed" e "Magdalena" deixaram a apresentação mais morna.


Quem seguiu uma linha parecida, porém mais bem sucedida foi o Soundgarden. Em sua estreia no Brasil, a banda declarou amores ao país e presenteou os fãs com uma sequência de clássicos e apenas uma faixa do disco mais recente, King Animal. "Spoonman", "Outshined", "My Wave" e "Rusty Cage" fizeram a cabeça dos fãs mais headbangers, enquanto "Fell on Black Days" e a lendária "Black Hole Sun" emocionaram o público que cantou junto, deixando a noite bem mais bonita.


O Arcade Fire encerrou a noite com um espetáculo musical e visual para apresentar o disco Reflektor. Os queridinhos do indie fizeram homenagem ao Brasil citando "O Morro Não Tem Vez", de Tom Jobim, fizeram a alegra dos alternativos com "The Suburbs", "Ready To Start", "No Cars Go", "Power Out" , e fizeram festa com "Reflektor", "Afterlife" e "Here Comes The Night Time". O final foi apoteótico com a bela "Wake Up", com direito a queima de fogos antes do fim da música e um lindo coro do público, que complementou a melhor apresentação do festival. A conclusão é que no fim, todo o sufoco que o público passa em um festival como esse vale a pena quando os artistas fazem apresentações como essas.

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