domingo, 12 de janeiro de 2014

Algo Mais - Viagem à São Thomé

por Letícia Leandro

Primeiro nascer do Sol de 2014
A escolha de ir para São Thomé das Letras, em Minas Gerais, para a virada do ano não foi muito consciente. As coisas simplesmente me levaram a esse destino, abracei a ideia e fui. Confesso que não tinha muitas informações sobre a cidade, li alguns textos na internet um dia antes, vi algumas fotos e simplesmente coloquei algumas roupas e um coração partido na mala e parti rumo ao Terminal Rodoviário do Tietê.

Saí de São Paulo no dia 29 no último ônibus para Três Corações às 22h30 - para ir para São Thomé não tem ônibus direto, apenas às sextas feiras, então é preciso ir até Três Corações e pegar um outro ônibus. Comprei um dia antes a passagem e peguei o penúltimo lugar do ônibus - compre com antecedência sua passagem se você for em alta temporada. A estrada estava livre e muito boa, só achei escura e cheia de curvas. Durante o trajeto fizemos umas cinco paradas em algumas cidadezinhas.

Cinco horas depois, às 3h30 da manhã, cheguei em Três Corações. A rodoviária é bem estranha, tem um “café” sujo onde as pessoas não são muito receptivas e o banheiro fica num porão. EVITE!

O próximo ônibus para São Thomé sairia às 6h, então tínhamos 2h30 de espera pela frente. Fui no posto de informações da rodoviária e recebi uma má noticia: “O ônibus só aceita dinheiro”. Eu havia gastado todo meu dinheiro vivo no Tietê e nas paradas. Ao questionar o senhor atendente sobre o que fazer, ele me respondeu: “Oh moça, espera até às 7 horas, vai no banco que fica logo ali, ou tem aquele bar ali na frente. Quem sabe você consegue trocar?” LEMBRANDO: não acredite no logo ali do mineiro.

Esperar até as 7 horas não estava nos meus planos. Peguei a mala, atravessei e fui até o bar que tinha uma cozinha toda de madeira e alguns bêbados pagando suas contas e indo embora cambaleando. O dono tinha uma cara muito fechada, mas respirei e soltei: “Moço, me ajuda? Passa o cartão e me volta o valor em dinheiro? Preciso pegar o ônibus das 6h”. Sem muitas palavras, ele passou meu cartão, me deu o dinheiro e a coca que eu havia comprado, perguntei se eu poderia ficar um pouco por ali - estava com medo da rodoviária - e ele disse que sim. Começamos a conversar e quando eu vi já estávamos tomando cerveja e dividindo um maço de cigarro ao som dos sertanejos universitários que tocavam na televisão sem cor.

Falamos de coisas banais, dissertamos sobre a vida e os seus mistérios. Ele me contou várias histórias místicas de São Thomé e gostava de repetir sempre que “todos os erros que ele cometeu era por escolha exclusivamente dele”, que sabia onde tinha errado e não faria diferente. Ele deixou o bar aberto até o meu ônibus para São Thomé chegar, me deu um abraço e eu prometi voltar um dia. Ali tive certeza que a viagem já estava valendo a pena.

No ônibus, conheci dois garotos muito legais de Santo André que estavam pela quinta vez na cidade e fizeram questão de me ajudar a achar minha pousada.

CHEGUEI. Alegria de ver meus amigos - o Bruninho, a Mari e o Erick. A viagem foi longa e eu estava virada do trabalho! Tomei um banho, café e rua! Destino: Vale das Borboletas.

Pegamos uma estradinha próxima a entrada da cidade, andamos um pouco por dentro de uma fazenda e chegamos à cachoeira!  Linda demais! Ficamos um pouco na parte de cima e depois fizemos uma trilha pequena até a parte baixa, onde tem duas quedas d’água sensacionais. Eu sou totalmente urbana e conectada, mas naquele momento comecei a entender a energia que todos falavam que aquela cidade tinha. Entrar na queda d’água e sentir ela cair forte, me limpando de tudo de ruim, de todo o peso de um ano nada fácil...

Ficamos um pouco por lá, até que o Bruno caiu nas pedras. ATENÇÃO COM AS PEDRAS, que são MUITO escorregadias, principalmente nessa parte de baixo do Vale das Borboletas.  Fomos ao posto da cidade onde ele foi atendido super rápido e muito bem.

Tudo é muito barato em São Thomé - menos roupas como batas, blusas peruanas e etc. Visite as lojinhas de artesanato, tudo é muito bem feito, o atendimento é ótimo, você conhece mais sobre a cultura da cidade e ainda ajuda as pessoas que vivem disso.  As comidas também são muito baratas e boas.

Subimos na Pedra da Bruxa e depois voltamos para a pousada. Eu fiquei na Pousada Mineira, que é bem próxima à Piramide e tem um atendimento muito bom, café da manhã e preço razoável. Depois de 30 horas no ar, pausa de duas horas pra dormir pra conhecer a noite da cidade.

Os bares da praça central lotados, pessoal muito simpático, animado, a música que toca por toda cidade é sempre muito boa. Raul domina! Cerveja barata, porções idem e muuuito papo na calçada. Se você quer economizar e fazer uma boa viagem, vá para São Thomé.

A cidade estava bem cheia, mas nada que se compare a outras regiões badaladas do país. Os bares de rock no pé da pirâmide são bem bacanas e baratos. E óbvio, encontrei muitas gente conhecida de SP e o grupo só aumentava.

Dia 31/12 fomos a Sobradinho, uma cidade próxima. Lá visitamos a gruta que é uma grande prova de coragem! MAS NÃO VÁ SEM LANTERNA, ela é bem escura, apertada em alguns momentos e tem vários trechos com água, que não é funda, mas é bom tomar cuidado! O fim da gruta  é uma cachoeira incrível, que parece uma grande piscina natural, onde dá para mergulhar e nadar tranquilamente. Quando chegamos não tinha muitos turistas. 

Almoçamos num restaurante todo rústico que ficava na beira da estrada e tocava rock. Sentamos e ficamos tomando uma cerveja olhado o horizonte e a chuva que se formava ao redor. O clima é demais!

De volta à pousada parei para descansar para a virada. Ceiamos pizza, a mais barata que já comi e muuuuito gostosa e subimos para a pirâmide para ver os fogos - poucos comparando com São Paulo, mas foi muito bonito. O céu estava limpo, dava pra ver as estrelas, e o clima era agradável. Depois dos fogos, descemos para a praça da cidade, onde tinha um DJ que tocava de tudo. Foi bem animado. Outras opções eram os carros parados no meio da cidade com os mais variados tipos de músicas e pessoas ao redor. Em qualquer canto que você ande, sempre tem alguém fazendo um som, cantando...

Às 5h30 subimos a pirâmide para ver o primeiro nascer do sol. E nessa hora, até eu que não sou muito ligada com essa história de energia, senti a força daquele lugar. Vendo o sol surgindo aos poucos, prometi um inicio diferente para o ano. Todos aplaudiram o sol, na mesma sintonia e alegria de estar ali naquele momento.

Hora de voltar para casa. Infelizmente. Volto com a certeza que São Thomé será minha fuga daqui pra frente. Sempre que a vida em SP se tornar insuportável. 

“(...) Voei pra cima: é agora coração, no carro em fogo pelos ares, sem uma graça atravessando o estado de São Paulo, de madrugada, por você, e furiosa: é agora, nesta contramão”
Ana Cristina César, em Poética (Companhia das Letras, 2013), meu companheiro de viagem.

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