quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Quem conta um conto - Novos atores, mesmo roteiro


E quando a revolução traz a reviravolta de atores, mas não de roteiro? O que incomoda, de verdade? Quem detém o poder? Homens e porcos. Homens porcos. Porcos homens. Quem era controlado, quando se vê no controle, se torna o controlador. Em um jogo de influência e sedução, hábitos são criados, promessas são quebras, regras são reescritas.

"Alguns animais mencionaram o dever de lealdade para com Jones, a quem se referiam como o "Dono", ou fizeram comentários elementares do tipo: "Seu Jones nos alimenta. Se ele fosse embora, nós morreríamos de fome". Outros faziam perguntas como: "Que nos importa o que acontecerá depois da nossa morte?" ou: "Se essa Revolução vai ocorrer de qualquer maneira, que diferença faz trabalharmos por ela ou não?", e os porcos enfrentavam grandes dificuldades para fazê-los ver que isso era contrário ao espírito do Animalismo."

Cansados de servir a Jones, o dono da fazenda, os animais se unem e fazem uma revolução. A fim de se tornarem livre, porcos, vacas, cavalos, cachorros, galinhas se juntam com o ideal de não terem alguém no comando dizendo o que devem ou não fazer. O Animalismo se mostra como a melhor resposta para que, enfim, haja igualdade. Humanos não são permitidos no novo espaço, completamente modificado pelas novas regras. Os mandamentos são estruturados para atenderem ao plano que fora combinado previamente. Esse é o mote para um dos clássicos de George Orwell, A Revolução dos Bichos, publicado pela primeira vez em 1945.

Os Sete Mandamentos
1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
3. Nenhum animal usará roupas.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.

Pouco a pouco a rotina é modificada. Há divisão de tarefas e responsabilidades. Todos trabalham para suprir a necessidade do grupo. É preciso cuidar das plantações, desenvolver construções que facilitariam o cotidiano. Uns se empenham com destaque. Outros, como podem. Uns poucos deixam sobressair um lado controlador. De repente, alguns animais são mais iguais do que outros. Sutilmente, velhas regras voltam a imperar como palavra de ordem.

"Esse trabalho era estritamente voluntário, porém, o bicho que não aceitasse teria sua ração diminuída pela metade."

A mudança parecia clara, no início. As dúvidas eram esclarecidas, problemas resolvidos. Empecilhos pela falta de prática em reger o ritmo certo do que era necessário fazer para manter a fazenda em ordem, ou, pelo menos, para suprir as necessidades do grupo de animais. Cada um se destacava por uma tarefa que melhor executava. Enquanto alguns estavam perdidos, como a vaidosa Mimosa, os porcos pareciam decididos a organizar tudo.

"Talvez fosse verdade que a vida era difícil e que nem todas as suas esperanças se haviam concretizado; mas tinham a consciência de não serem iguais aos outros animais. Se tinham fome, não era por alimentarem alguns tirânicos seres humanos; se trabalhavam arduamente, pelo menos trabalhavam em seu próprio benefício. Nenhuma criatura dentre eles andava sobre duas pernas. Nenhuma criatura era "dona" de outra. Todos os bichos eram iguais."

Alguns animais demoram para desconfiar do que acontece na fazenda. Os porcos conseguem se articular bem, sempre com desculpas e explicações para qualquer decisão que parece oposta ao que havia sido combinado. Mesmo ao se depararem com a verdade, é difícil aceitar o rumo que as coisas tomara. Seres que pregavam por uma vida em grupo diferentes, de repente agem como aqueles que abominavam. Os inimigos humanos estavam de volta e contavam com o apoio de animais que armaram todo o plano de tomada de poder. As máscaras caíram, e, se surpresa, porcos se transformaram em homens.

"Um porco caminhava sobre as duas patas traseiras.
Sim, era Garganta. Um tanto desajeitada devido à falta de prática em manter seu volume naquela posição, mas em perfeito equilíbrio, passeava pelo pátio. Momentos depois, saiu pela porta da casa uma comprida coluna de porcos, todos caminhando sobre as patas de trás. Uns melhor que os outros, um ou dois até meio desequilibrados e dando a impressão de que apreciariam o apoio de uma bengala, mas todos fizeram a volta ao pátio bastante bem. Finalmente houve um alarido dos cachorros, ouviu-se o cocoricó esganiçado do garnisé e emergiu Napoleão, majestosamente, desempenado, largando olhares arrogantes para os lados, com os cachorros brincando à sua volta."

"Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera a fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco."

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...