quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Ao Vivo - Festival para as massas

Divulgação / Rock in Rio
Rock in Rio é um festival para as massas - desconsiderando os valores. E isso não é necessariamente ruim. Comece pelo line-up. Repleto de grandes nomes da música internacional e grandes clichês da música brasileira. Qual a probabilidade de Capital Inicial, Frejat, Jota Quest e Ivete Sangalo não tocarem na próxima edição? Além disso, por que diabos chamar o Metallica para fazer o MESMO show que a edição passada? 

Segundo, a proposta do evento não é ser alternativa, como o Lollapalooza ou o Planeta Terra. Por isso vemos nomes como Rihanna, Katy Perry, Jessie J e Claudia Leitte tocando no Palco Mundo. É uma grande micareta para o público que não gosta necessariamente de rock, mas quer aproveitar um bom (?) evento. Não vou repetir aqui o que sempre digo com meus amigos sobre as atrações que "descaracterizam o título de festival de rock".

Para ser megalomaníaco nos dias de hoje, não dá pra pensar só no estilo que dá nome ao festival. Tem que pensar no mercado, no que as rádios tocam, no que o público quer consumir. Por isso entendo a farofada que eles fazem em chamar bandas de estilos diferentes, mas que soam como "bandas indies" para tocar no mesmo dia. Vide o dia 14 de setembro, que teve no palco principal os shows de Capital Inicial, 30 Seconds To Mars, Florence + The Machine e Muse, além de Offspring - esse sim um nome de peso - no palco "alternativo".

A ideia foi boa, pois segundo pesquisa do Estado de São Paulo, o maior público do primeiro fim de semana do festival foi do dia "indie". Com um punhadinho de fãs de cada banda, os Medinas conseguiram encher a Cidade do Rock.

O público do festival é tão misto quanto sua programação. Uma parte compra ingresso para qualquer dia, apenas para dizer que foi. Outra vai focada em assistir apenas um show e ir embora. Muitos querem aproveitar os brinquedos, comer, conhecer novas bandas. Outros não gostam de nada e vão com a cabeça mais fechada, sem paciência pra outras bandas além das que são de seu interesse. Mas no geral, todos estão ali porque vêem sentido em alguma coisa que está acontecendo naqueles palcos.

Alguns shows

Raul Aragão / I Hate Flash
No segundo dia de festival, o público da Cidade do Rock era bem misto. A maioria usava camisetas do Offspring, Ramones ou Muse. A tarde começou com um show pesado do Autoramas com BNegão. Parceria incrível, versões garageiras de clássicos. Foi o rock tomando conta do ambiente. Em seguida veio Marky Ramone - ex-baterista do Ramones - tocando os hits de sua antiga banda. Rodinhas se abriram e até adultos se tornaram adolescentes de novo. No meio do set, o vocalista Michale Graves entoou algumas músicas do Misfits, sua antiga banda, em versão voz e violão. Pausa para a cerveja. Quando a banda retornou ao palco, o gás do público voltou e clima de CBGB ganhou a atmosfera.

O primeiro show da noite no Palco Mundo foi com o Capital Inicial. Com uma queima de fogos introduzindo a apresentação, a banda subiu ao palco cantando músicas do disco mais recente, Saturno (2012). Aqueles que não acompanham a banda se sentiram perdidos, mas entre uma novidade e outra, havia espaço para clássicos como "Fátima", "Natasha", "Veraneio Vascaína" e "O Mundo", além do discurso político e da chatice do vocalista Dinho Ouro Preto, cara. Do caralho, véi. Só que não.

Aí uma maratona para se deslocar para o palco Sunset e tentar assistir ao show do Offspring. Quem conseguiu chegar - o que não foi o meu caso -, assistiu ao show bem apertado. Da lateral do palco o som era abafado, mas dava pra sentir a animação do público, que mesmo sem ver nada, parecia se divertir com a apresentação.

Voltamos ao Palco Mundo. O show da vez é do 30 Seconds To Mars. Teatral, músicas razoáveis que eram cantadas a todo pulmão pelas fãs histéricas do vocalista Jared Leto. Desse show saiu a cena mais comentada nos jornais do dia seguinte: o cantor/ator saltou da tirolesa no meio da apresentação. Mas o show foi logo esquecido quando Florence Welch entrou com sua máquina no altar que se formou no palco. A apresentação mais parecia uma cerimônia com harpas, órgão, coral, e Florence era a bruxa/fada/elfa/ninfa que comandava o culto. Certos momentos seu canto era desesperado, porém agudo e afinado, como se imagina o canto de uma sereia. Florence é um ser mágico.

Esper / I Hate Flash
O show do Muse foi uma comprovação. Quando a banda foi escalada para headliner muita gente questionou a capacidade da banda que só tinha "a música do crepúsculo" conhecida aqui no país. Mas eles provaram o contrário. Apesar de colocar músicas pouco conhecidas no set, eles apostaram nos grandes hits, e com uma apresentação técnicamente perfeita eles conseguiram levantar o público e arrastar uma multidão para cantar e pular com eles.

Como fã seria tendencioso elogiar a banda, mas quem esperava por um bom show de rock saiu satisfeito. As guitarras distorcidas e os vocais afinados e cheios de falsetes de Matt Bellamy só não devem ter agradado muito aos "indies" que estão acostumados com bandas que soam todas iguais, como Foster The People e Two Door Cinema Club - que são bem legais, até -, e não se interessam muito por bandas com uma sonoridade mais progressiva com elementos sinfônicos e eletrônicos, sonoridade pouco explorada nos dias de hoje.

Raul Aragão / I Hate Flash
Muse fez a melhor apresentação do primeiro final de semana. Eles só perderam para o grande Bruce Springsteen, que se apresentou no dia 21, e mesmo não tendo muitos hits nas rádios brasileiras, empolgou o público por quase três horas. Ele ainda tocou o clásico Born In The USA (1984) durante o show. O triste é que ele tocou para uma plateia reduzida, já que metade dos fãs de Phillip Phillips e John Mayer já tinha ido embora. Esses dois, aliás fizeram dois shows para fãs histéricas, que apareciam a cada minuto chorando nos telões.

Phillip precisa crescer um pouco mais para se apresentar em um Palco Mundo, mas ele se esforçou e conseguiu agradar com seu violão. Já John Mayer fez uma apresentação reduzida por conta do tempo. Porém, apesar de faltarem muitas músicas, a seleção feita por ele agradou o público e deixou todas as fãzocas felizes. Não importa se o setlist não era bom, ou se ele pareceu preguiçoso, como disseram por aí. Como já disse, o que importa é que essas músicas sempre vão fazer sentido para alguém - se não fizer pra mim, pelo menos pra 80% das pessoas que lá estavam fez.

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