A vida não é fácil. A afirmação pode parecer clichê ou adicionada de um drama sem fundamento, mas é verdade. O cinema volta e meia retrata as dificuldades que inquietam a alma humana. E o faz muito bem. No longa-metragem argentino Valentin (2002) questionamentos atordoados são postos através dos olhos de um pequeno menino de 9 anos, personagem que dá nome ao filme. É difícil enxergar através dos óculos dele. Não que o grau das lentes atrapalhe, mas a complexidade das situações que se desencadeiam traz o inquietamento de quão dura pode ser a realidade.

Tanto a mãe como o pai são figuras ausentes na vida de Valentin. A mãe está afastada e não o vê há anos. Embora ele sinta falta, mesmo não lembrando do rosto dela, o pai nunca cede que Valentin reencontre-a. Enquanto isso, a avó paterna (Carmen Maura) é quem supre o papel dos dois na criação e no cuidado com o menino. Com o humor um pouco volúvel depois da morte do esposo, a avó é a principal companheira do menino. A postura rude e pouco amigável é compreendida no decorrer do longa. Depois de sofrer com decepções e perdas, a velha senhora tenta preservar - a sua maneira - o que restou.
Com altos e baixos, Valentin sempre tem renovada a ilusão de que a nova namorada do pai pode ser a escolhida para preencher a lacuna deixada pela mãe. Mesmo com todo o carinho da avó e do tio que os visita esporadicamente, o menino ainda sente falta de alguém que possa ocupar esse lugar. Leticia (Julieta Cardinali) é a namorada do pai de Valentin que mais agrada ao menino. Calma e delicada, ela é parece ser a única, entre tantas outras, que se dispôs a escutar as inquietações do 'anãozinho'.
O filme termina com um respiro positivo. Essa deve ser a deixa para nos lembrar que a inocência da infância faz com que problemas possam ser resolvidos sem a complicação que os adultos teimam em colocar como obstáculo ao não arriscar. Com certeza é vitorioso com se arrisca a buscar os sonhos mais distantes, nem que seja na Lua.
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